Entre a noite de ontem e a hora
em que “preparo esta pizza” não aconteceu um atentado… aconteceram ou estão a
acontecer três! Mas antes destes três… Um outro. O pai de todos os atentados. O
atentado à dignidade, à inclusão, à paz, à harmonia. Que atentado é esse?
Para não recuarmos muito na
história da humanidade recordemo-nos apenas do que era o planeta no início do
século XX. Uma série de pequenos países da europa dominavam uma série de enormes
territórios e povos. Povos diversos dos europeus e entre si. Culturalmente,
religiosamente, historicamente, fisicamente, linguisticamente diversos. Durante
séculos os pequenos europeus exploraram a seu belo prazer. Enfraquecidos enfim
mas ainda a contragosto regressaram, de barriga cheia e consciência leve para
casa. Deixaram atrás de si injustiça, guerra, pobreza, fome, exploração, barris
de pólvora e caixas de fósforos.
É surpreendente que atrás dos
pequenos europeus viessem os povos calcados à procura de uma vida melhor? É
inaceitável? É incompreensível? Os pequenos europeus perceberam
que não. Não era surpreendente ou inaceitável. Era absolutamente compreensível.
Mas… ficaram-se por aí. Os recém-chegados nunca foram alvo de atenção.
Conquanto ficassem no canto deles… Tudo muito bem! Até podiam ser úteis. Se
foram explorados lá, na terra deles, cá, na pequena europa, fazia ainda mais
sentido explorar.
E foi este espírito de explorador
(no pior sentido da palavra) que nos trouxe ao lugar onde estamos. Um
continente isolado. A esconder a cabeça na areia. E a tentar alhear-se dos
problemas que criou lá fora e que promoveu cá dentro.
Desde quando se achou que bastava
permitir que o explorados viessem para a pequena europa, tivessem um trabalho
muitas vezes mal remunerado e não se desse nenhuma atenção à integração? A
integração que, de resto, devia ser das duas partes!
O atentado de ontem foi um
atentado à humanidade, à paz, à vida dos comuns. No lazer dos comuns. Nos
restaurantes, num estádio de futebol, num concerto! Quem o cometeu foi, pelos
vistos, o Estado Islâmico. Mas também a intolerância, da ignorância, do
preconceito. Perdeu-se perto de cento e
cinquenta vidas (e a contar) mas, desculpem-me a eventual frieza, perdeu-se
muito mais do que isso. Perdeu-se a vergonha.
O segundo atentado aconteceu na
Polónia. Dizer-se que, à luz dos atentados de ontem já não é possível acolher
refugiados é, no mínimo, conveniente e desavergonhado. No caso deste atentado as
vítimas foram a vergonha e a União Europeia. Quase aposto que em algumas
cúpulas de poder, em alguns partidos, em alguns círculos, se esperava
ansiosamente por um momento como o de ontem. Era o argumento que faltava.
Aqui, na pequena europa, já não
existe União Europeia. O que existe é uma “coisa” chamada Eurozona. Essa é a
única que realmente parece importar. Agora… União? Onde está a memória dos
povos europeus? Dos que passaram por guerras violentas e opressões sufocantes?
A sensação que fica é a de que quanto mais se sofre no passado mais que se quer
fazer sofrer.
A União Europeia morreu há já
algum tempo. E ninguém lhe disse nada.
O terceiro atentado acontece nas
redes sociais neste preciso momento. Vítimas? A inteligência e a tolerância. É
impressionante como o uso da liberdade de expressão (que também eu uso neste
momento) dá permissão ao ultraje, à agressividade, à presunção.
Os próximos tempos, imagino eu,
vão trazer-nos posições extremadas, mais intolerância, mais violência, mais atentados,
mais vítimas. Fossem as vítimas “apenas” seres humanos e já estaríamos mal. Mas
a vítima maior é a humanidade.
J. entrega uma pizza #à Arrebentábolha
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