sábado, 21 de outubro de 2017

Dos fracos não reza a história

expresso.sapo.pt

"Courage is what it takes to stand up and speak; courage is also what it takes to sit down and listen."
Winston Churchill

A temática dos incêndios incendiou naturalmente também a blogosfera e partidarizou as opiniões de conhecidos opinion makers e de cidadãos anónimos. Pessoalmente, não me interessa discorrer sobre as causas deste flagelo nem sobre como combatê-lo. Alguns são adeptos da teoria da economia "trickle down", eu cá sou mais pela responsabilidade "trickle down": se os mais poderosos forem responsáveis e assumirem as suas responsabilidades, o resto da população fará o mesmo. 
Ou dito de outra maneira mais directa: o exemplo deve vir de cima. E esta situação não é diferente; é até um exemplo paradigmático. Mas os responsáveis portugueses, políticos, operacionais, comunicacionais, não se revelaram à altura. Se é verdade que é nas piores circunstâncias que as pessoas revelam o seu mais íntimo ser, então estamos conversados. Os que mandam no nosso país não souberam  decidir em prol daqueles que por eles são governados. Porque os que mandam não sabem o valor da perda. Porque não sabem o que é assistir ao desmoronar daquilo para o qual trabalharam a vida inteira. Porque, atrever-me-ia a dizer, não sabem o que é trabalhar para viver. 
Mas os mais fracos revelaram-se fortes face à catástrofe. Os cidadãos anónimos saíram de suas casas para combater as chamas, ajudando não só as suas famílias mas também aqueles que não conheciam. Os bombeiros de todo o país acorreram a apagar chamas em locais cujo nome nunca tinham ouvido falar. E até de fora do país chegaram mensagens de encorajamento e, mais do que isso, de profunda solidariedade. E porquê? Porque estas pessoas conhecem a experiência da perda. Hoje recebi uma mensagem de um cabo-verdiano que conheci em viagem. Eu sei que ele não quereria que eu o publicitasse, por isso vou chamá-lo A. 
A. escreveu assim: "Estou muito triste com tudo o que esta a acontecer em portugal, por isso estou aqui para ver se posso ser útil. eu gostaria de saber se por acaso há possibilidade de ajudar fisicamente algumas das famílias afectadas com um apoio físico durante um mês na reconstrução.eu posso pagar o voo, e se for possivel a família podia me acolher e ficarei um mês a ajudar a fazer trabalhos como construção , plantação entre outros. espero que sim". 
Afinal, os mais fracos revelam-se os mais fortes, e os mais fortes demonstram a sua fragilidade e pequenez. Dos fracos não reza a história, diz o ditado. Verdade, mas convém saber primeiro quais foram quais. E em Portugal não restam dúvidas sobre isso. Esperemos que, desta vez, os governantes sigam o exemplo dos governados. Afinal, às vezes, o exemplo tem de vir de baixo.

R. entregou uma pizza #àanon&mato
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