terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Bancos - a peça fora da engrenagem

conceitos.com
António Costa, Primeiro-Ministro de Portugal, questionado ontem (15/12/2015) quanto ao processo de venda do BANIF, declarou que “Independentemente de como corra o processo de venda, que desejamos que corra bem, independentemente de como corra o processo de apreciação na Comissão Europeia, que também desejamos que corra bem, há uma coisa que ficará sempre garantida, que é a integridade do dinheiro dos depositantes, que será salvaguardada em qualquer circunstância, e portanto não há nenhum motivo para os depositantes terem qualquer quebra de confiança na instituição. […] Espero que a solução que venha a existir proteja o melhor possível o dinheiro dos contribuintes, mas a garantia que eu posso dar aos contribuintes não é a mesma que posso dar aos depositantes. Os depositantes têm todas as razões para estar plenamente confiantes na integridade dos seus depósitos, independentemente dos seus montantes. Quanto ao dinheiro público investido no banco, esse dependerá muito do resultado final, e quanto a esse não posso dar a mesma garantia.”
 
Nestas inacreditáveis declarações está patente a súmula da atitude que o poder político tem tido para com o sistema financeiro e as suas crises recorrentes, particularmente no pós-2008. É espantoso quando um primeiro-ministro de um país põe à frente dos contribuintes, que o elegeram para o cargo público que desempenha, os depositantes de um banco que, apesar da participação do Estado, continua a ser privado. O mais alto representante do poder executivo reconhece assim que não serve os interesses dos votantes, mas sim os dos depositantes. Porquê? A resposta oficial é resumida na declaração de Jorge Coelho, uma das figuras mais conhecidas do Partido Socialista, que no mesmo dia afirmou que “Isto não pode ser tratado como se tratasse de uma insolvência de uma empresa qualquer, das milhares que se fazem todos os meses; não, uma instituição financeira tem de ser tratada como uma instituição quase, digamos, de Estado, pelas consequências que tem do ponto de vista, digamos, global.”, ou seja, os bancos parecem merecer um papel à parte na economia de mercado.
 
Se os responsáveis políticos continuarem subservientes aos agentes financeiros, e se as opiniões públicas continuarem adormecidas, é certo que a tendência actual irá manter-se. Os Estados continuarão a financiar os buracos nas instituições financeiras, representando um papel de rede de segurança para o sistema, assumindo uma participação cada vez mais prolongada e mais acentuada nos capitais dos bancos privados, e sobrecarregando os contribuintes com a factura desses negócios, diminuindo o nível de vida daqueles que deveria defender. Uma vez que não é sustentável, a médio ou longo prazo, os contribuintes assumirem continuamente os prejuízos dos bancos, enquanto os depositantes beneficiam dos lucros, o desfecho provável deste cenário é a suprema ironia do mundo pós-queda do comunismo: a liberalização desregulada do sistema financeiro levará à sua nacionalização e apropriação por parte do Estado, podendo produzir um sistema económico de características parecidas com o do Estado chinês.
 
No entanto, há sempre uma alternativa. Se a sociedade como um todo, privados e Estado, particulares e empresas, assumirem que os Bancos são empresas como as outras, com risco para o investidor (leia-se, depositante), e que, como tal, podem (e devem, se tal for o caso) falir como outra empresa qualquer, o mercado poderá regenerar-se, eliminando os maus bancos e construindo os melhores. Essa decisão acarretará riscos para o sistema económico-financeiro, com certeza. Mas, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, o risco associado à manutenção da impunidade dos agentes financeiros, que se tem verificado até agora, levar-nos-á a um cenário potencialmente muito mais perigoso, podendo resultar numa crise de consequências difíceis de imaginar, na qual a própria sobrevivência dos regimes democráticos estará em causa. 

R. entregou uma pizza #à Arrenbentábolha

domingo, 29 de novembro de 2015

Monhé chama cega, preta e cigano ao governo

ptchan.net
É hora de analisar a composição do governo recentemente empossado. Uma vez que a posse foi há poucos dias, ainda não houve tempo do governo fazer obra, logo a análise do governo tem de se focar noutros temas. Sendo assim, e inspirado por um título do “Correio da Manhã”, decidi fazer uma análise baseada no que verdadeiramente interessa, ou seja, raças e etnias. Com base nesta análise, na qual me restrinjo aos elementos-chave do executivo, posso já avançar que este governo será, provavelmente, o mais bem sucedido da democracia portuguesa. Vejamos porquê.


O monhé – Primeiro-Ministro; com um primeiro-ministro monhé, temos a garantia que o chefe de governo tem olho para o negócio. Além disso, trabalhará longas horas, sem feriados nem folgas, em prol do crescimento económico da nação. Será sempre sorridente e solícito, e poderá servir tchai nas conferências do Eurogrupo. Quando sujeito a perguntas incómodas, poderá abanar a cabeça e ninguém perceber se está a dizer sim ou não. Nos momentos mais difíceis, poderá rezar a qualquer um dos milhares de deuses do panteão hinduísta. Por fim, o país terá, no final da legislatura, um sistema nacional de riquexós, servindo todas as capitais de distrito.

A cega – Secretária de Estado para a Inclusão de Pessoas com Deficiência; dotada da qualidade fundamental em qualquer cargo executivo, esta aquisição será uma mais-valia em qualquer ministério. Será um governante que trabalhará numa base racional com base no mérito, e não emocional com base em interesses, pois, como todos sabemos, “longe da vista, longe do coração”. Os atributos físicos deixarão também de ser um critério para admissão como secretária(o) na Assembleia da República e como assessora(o) de Ministros. Além disso, como tem os outros sentidos mais apurados, poderá ouvir as conversas da oposição (PSD/CDS-PP/BE/PCP-PEV/PAN), sentir o cheiro de um negócio mal amanhado, ou ainda apalpar o terreno sempre imprevisível das vontades do próximo Presidente da República. Prevê-se um futuro brilhante dentro do PS e do executivo para esta Secretária de Estado.

A preta – Ministra da Justiça; é, provavelmente, o único erro deste governo. Com ascendência angolana, seria muito mais útil no Ministério da Economia, das Finanças, ou dos Negócios Estrangeiros, mudança que, ainda assim, poderá acontecer numa futura remodelação governamental. Está numa posição fulcral, e tem as qualidades necessárias, para compreender os pormenores jurídicos dos negócios que envolvam Portugal e o seu país natal, assim como deslindar a complexidade do processo “Marquês”. O “Correio da Manhã” terá maior dificuldade em lhe tirar uma fotografia à noite, quando sair de carro do Ministério, logo teremos menos fugas do segredo de justiça. Com base na tradição angolana, poderemos esperar prisões de elementos subversivos que andem a minar as bases do regime democrático e garantir, assim, a segurança de todos nós. Único senão: ninguém deverá adoptar um comportamento diferente em relação aos alimentos com o objectivo de obter uma decisão favorável em tribunal, pois não terá o efeito desejado.

O cigano – Secretário de Estado para as Autarquias Locais; com um conhecimento aprofundado dos mercados e feiras, e habituado à gestão dos bairros sociais, não há ninguém melhor equipado para governar localmente de uma forma eficaz, sempre com um olho nas autarquias e outro no Povo. Está encontrado o digno sucessor do “Paulinho das Feiras”. Pode também, se tal for necessário, intimidar algum elemento menos crente dos parceiros dos acordos de governo do PS. Além disso, é possível que surja um Decreto-Lei a impor os casamentos arranjados a partir dos 14 anos, o que poderá ser uma medida essencial para aumentar a taxa de natalidade em Portugal. Por fim, poderá servir de elo diplomático com o número crescente de imigrantes da Europa de Leste que se estabelecem em Portugal, facilitando a integração social que todos desejamos.

Por tudo isto, alimento as maiores expectativas relativamente à acção governativa dos próximos tempos.

R. entregou uma pizza #à são todos pretos

sábado, 28 de novembro de 2015

Gestão de expectativas

Agora que já se deu a tomada de posse, receada por uns, temida por outros e protelada até ao limite do possível por um outro pobre diabo que por aí anda, agora a fazer ameaças veladas de que tem os seus poderes intactos (pode sempre ir à ComicCon no próximo fim de semana, brincar aos super heróis!) será porventura altura de deitar um pouco de água na fervura.

Escrevo, deitar água na fervura, porque pelo que vou vendo espalhado por aí, pelas redes sociais parece-me que há um grupo de pessoas que está com expectativas muito elevadas em relação ao Governo  do Partido Socialista apoiado por acordos bilaterais com BE, PCP e PEV que ainda agora tomou posse.

De repente depositam-se muitas esperanças num governo de esquerda do PS. Ora isso constitui uma novidade, até para o próprio Partido Socialista. Até agora, e tanto quanto me lembro, o Partido Socialista sempre governou ao centro. E mais estranhamente, à direita. Por vezes, mais à direita do que o próprio PSD. Os governos do engenhoso Sócrates apresentaram, propuseram e efectivaram medidas tão ou mais liberais do que o governo do PSD de PPC/PP.

Os eleitores de esquerda que apoiaram a decisão de António Costa de se aliar ao Bloco, ao PCP e aos Verdes estão à espera que chegue agora uma política de esquerda que apoie os trabalhadores, melhore os apoios sociais e que privilegie os cidadãos em detrimento dos apoios à banca, ao patronato e aos grandes grupos económicos que operam em Portugal. Cada sector da economia e da sociedade portuguesa está a tentar fazer-se ouvir. Na rua, em congressos, em manifestos, em reivindicações mais ou menos claras na tentativa de exercer alguma pressão e chamar a atenção para "a situação do sector" dos trabalhadores e afins. Cada classe profissional está expectante para saber as primeiras medidas que os novos ministros (17! e 41 secretários de estado. Começam bem! :s) vão propor.

De facto, a expectativa é grande.
Porém, manda a prudência que se moderem as expectativas para que o previsível tombo que pode estar escondido numa qualquer curva do caminho, não gele a esperança e não torne (quase) insuportável  a pouco menos miserável existência do trabalhador português. Pobre, cansado, esmifrado pela máquina fiscal e saturado de promessas e de novas esperanças e janelas de oportunidade que tardam a trazer-lhe algo que ele de facto precisa, quer, é útil, necessário e lhe facilita a vida. A cada post que vejo nas redes sociais de apoio às medidas que o Parlamento tem feito aprovar por força da maioria de esquerda existente, tremo de ansiedade.

Porque o  estado de graça e a Graça deste Estado, estão ameaçados pelas fragilidades políticas da coligação parlamentar de esquerda, pela múmia, esse pobre diabo todo poderoso que vagueia pelo Palácio de Belém, pela ala de direita do Partido Socialista, pela Comissão Europeia, as agências de rating (esses agiotas!) e pelos poderes instituídos em Portugal que actuam na sombra, nos corredores do poder, organizados em grupos de pressão e lobbies.

Não quero ser o Velho do Restelo. Mas também não quero ser o adepto que quando vai para o jogo prevê goleadas das antigas mas que volta para casa triste, de ar cabisbaixo porque a sua equipa foi cilindrada pelo adversário. Portanto, expectativas no mínimo. Assim, tudo de positivo que vier   tornar-se-á surpreendentemente bom!

E. entregou uma pizza #à centrão bipolar; #à insanáveis convergências

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

100 anos da Relatividade Geral de Einstein

einstein.stanford.edu
Faz hoje 100 anos que Albert Einstein entregou, na Academia de Ciências de Berlim, a sua versão final da Teoria da Relatividade Geral. Nela, apresentava equações matemáticas que relacionavam a gravidade com a geometria do espaço e do tempo. Tempo e espaço deixaram de ser entidades absolutas, meros espectadores da realidade física; a matéria molda a estrutura geométrica do espaço-tempo, e esta determina o movimento da matéria. Juntamente com a mecânica quântica, desenvolvida nos anos 20 do século passado, a Relatividade Geral constitui um dos pilares da Física moderna, mudando para sempre a nossa visão do universo. Com base nas suas equações, Einstein pôde fazer uma descrição muito mais rigorosa do movimento de corpos celestes e de raios de luz sujeitos à interacção gravítica, prevendo o desvio da luz perto de grandes massas. Além disso, também previu a existência de ondas gravitacionais, semelhantes a ondas electromagnéticas (como a luz visível), mas extremamente fracas e difíceis de detectar, o que pode explicar ainda não terem sido observadas.

Mas, como todas as grandes teorias físicas, a obra ultrapassou o seu criador. As equações apresentadas a 25 de Novembro de 1915 continham revelações que nem Einstein conseguiu, ou teve coragem, de reconhecer. Uma delas foi a que levou à maior descoberta científica do século passado, a expansão do universo, transformando o universo de algo eterno e imutável, para um sistema que teve um início, que evolui e que, provavelmente, terá um fim. As equações de Einstein provavam-no; Einstein não acreditou e modificou as suas próprias equações de modo que resultasse um universo estático. Poucos anos depois, o astrónomo Edwin Hubble viria a provar o contrário. Outra revelação foi a previsão da existência de corpos celestes com uma gravidade tão intensa que nem a luz lhes pode escapar, os chamados buracos negros. Einstein nunca acreditou neles, mas hoje há fortes indícios experimentais da sua existência, e a teoria desenvolvida a partir dos anos 60 do século passado descreve, com um grau de consistência interna notável, as condições, mecanismos e resultado final do colapso gravitacional de uma estrela, do qual pode resultar um buraco negro.

No entanto, todas as teorias físicas têm um âmbito de aplicação limitado, e a teoria da Relatividade Geral não é excepção. Por exemplo, sabe-se que ela tem limitações intrínsecas quando a natureza corpuscular da matéria se evidencia. Diz-se que é uma teoria clássica, e não uma teoria quântica. Não quer dizer que esteja errada; apenas quer dizer que o seu campo de aplicação não é infinito, isto é, existirão fenómenos que ocorrem na Natureza para os quais a teoria não tem explicação. A Relatividade Geral é notável no sentido em que a sua própria estrutura interna prevê as condições em que deixará de ser válida. Em situações de concentrações de massa extremas as equações de Einstein caiem por terra, indicando que nessas circunstâncias os modelos existentes actualmente, quer para a geometria do espaço-tempo, quer para a estrutura da matéria, deixam provavelmente de ser válidos em certas zonas designadas por ‘singularidades’. É precisamente o estudo destas situações extremas que nos permite esticar o nosso conhecimento até à sua fronteira actual e assim ‘espreitar’ um pouco o futuro da física e, consequentemente, da própria humanidade.

Centenas de anos antes de Einstein, Newton revolucionou a nossa visão do universo, mas só muito depois da sua morte a humanidade interiorizou a revolução científica que ele e outros protagonizaram: o determinismo das leis físicas, o optimismo científico, a posição do Homem e de Deus no universo. Da mesma forma, a visão einsteiniana do espaço e tempo ainda não foi assimilada pela esmagadora maioria da população, 100 anos depois da criação da teoria. Todos nós pensamos instintivamente de forma newtoniana, não nos dando conta que o espaço e tempo fazem parte da dinâmica do universo e não têm uma existência independente de nós. O progresso científico é por vezes lento, mas também pode ser extraordinariamente rápido e revolucionário. É impossível prever o grau de conhecimento científico quando se comemorar o bicentenário da teoria da Relatividade Geral, mas uma coisa é certa: a busca pela compreensão da Natureza continuará tão acesa como hoje, pois essa é uma das características básicas do ser humano. E, quem sabe, estaremos nessa altura a comemorar a visão singular de um próximo Einstein.

R. entregou uma pizza # à neutrinos à solta

A verdade sobre o 25 de Novembro de 1975 e o PCP

Arquivo DN / Global Imagens
Até há bem pouco tempo, o PCP era elogiado unanimemente pelos partidos e comentadores de direita como um partido responsável, que canalizava o voto de protesto, mas que não levantava grandes ondas no panorama social português, não sendo portanto um partido “radical”. A partir do momento em que a hipótese do PCP integrar um governo de coligação de esquerda se tornou credível, a opinião política mudou. Choveram referências históricas ao marxismo-leninismo, ao radicalismo da esquerda portuguesa, ao PREC, e ao 25 de Novembro, data emblemática (do ponto de vista da direita portuguesa, e do PS) da tentativa de tomada de poder pelas forças radicais de esquerda, faz hoje 40 anos. Nestes dias conturbados, em que a arma do medo volta a ser empunhada com veemência por variados actores políticos, convém esclarecera natureza do 25 de Novembro e o papel desempenhado pelo PCP. Não tenho idade para ter vivido o 25 de Novembro de 1975, e não sou especialista da matéria. No entanto, apesar do distanciamento histórico ainda não ser suficiente, vários especialistas estudaram esse momento. Analisemos então a verdade histórica.

1. O PCP era, à época, um partido internacionalista, sob a capa protectora e orientação política da URSS.
2. No contexto internacional de guerra fria, era completamente impossível a instauração de um regime comunista em plena Europa Ocidental; os EUA nunca o permitiriam, sabendo-se inclusive hoje que existiam planos de invasão do nosso território se isso viesse a acontecer. A URSS sabia-o, e a cúpula do PCP também.
3. Durante o PREC, o PCP clamou sempre pela defesa da jovem democracia portuguesa, e contra a instauração de qualquer nova ditadura, de direita ou de esquerda.
4. Existia uma facção das Forças Armadas e uma corrente política mais radical do que o PCP, corporizada em diferentes pequenos partidos, que defendiam um rumo mais radical, do estilo “é agora ou nunca”. A extrema-esquerda sempre foi um problema para o PCP.
5. O PCP sempre receou um golpe contra-revolucionário, possivelmente em resposta a um levantamento militare de esquerda, que aniquilasse a esquerda política e militar portuguesa.
6. Hoje sabe-se que o PCP fez um acordo pré-25 de Novembro com o chamado Grupo dos Nove, no sentido de assegurar o seu não apoio a acções radicais da esquerda militar, sendo que há testemunhos que terá havido um encontro entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes nas vésperas do 25 de Novembro.
7. A 25 de Novembro, dá-se um levantamento militar de tropas pára-quedistas, em reacção a uma série de medidas impostas sobre a unidade, e, em resposta, uma força militar chefiada por Ramalho Eanes põe fim ao que seria o início de um golpe revolucionário.
8. Durante o dia de 25 de Novembro, o PCP mantém-se à parte das movimentações, não apoiando a saída de forças militares próximas do partido, e recusando a distribuição de armas a centenas de militantes que, junto das sedes do PCP e das unidades militares, as pediam.
9. No dia 26 de Novembro, Melo Antunes vai à televisão dizer que o PCP é fundamental para a construção da democracia portuguesa e, contra a opinião do PS e da direita portuguesa, rejeita a ilegalização do partido comunista.

Moral da história: no final do “Verão Quente”, no auge do PREC, o PCP rejeitou a via revolucionária, não apoiando quaisquer acções militares para a tomada do poder, e optando pela integração no regime democrático. Sendo assim, hoje, 25 de Novembro de 2015, os portugueses poderão dormir descansados; o governo que tomará posse em breve é apenas um governo do PS com apoio parlamentar das forças políticas à sua esquerda. Inédito? Sim. Revolucionário? Não.

R. entregou uma pizza #à ódios de estimação

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Cavaco, o pai tirano da Democracia

Quando li as exigências do presidente Cavaco Silva à indigitação de António Costa e um governo de esquerda, não queria acreditar. De entre uma lista, surgia o compromisso de “Estabilidade do Sistema Financeiro”. Estabilidade do Sistema Financeiro? De repente parei a olhar para aquilo e lembrei-me de recolher uma série de frases proferidas pelo mesmo presidente ao longo deste ano:

“O Presidente da República considera que Portugal pode tornar-se um país ingovernável se não existir estabilidade política.” Será que queria dizer estabilidade financeira? Ops…

“Não podemos regredir num caminho que foi árduo” Ops… será que temos que permanecer abaixo de lixo para sempre? É essa estabilidade financeira que Cavaco Silva quer? Sim, porque é aí que temos estado…

"Portugal tem neste momento uma reserva de fundos financeiros para manter a economia durante, vários, vários meses." Se Cavaco Silva acha que há assim tanto dinheiro reservado, de que estabilidade precisa?

“Irei tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a confiança e a credibilidade externa do país” Será Cavaco Silva presidente dos portugueses ou das instituições financeiras?

"Os agentes políticos devem assumir, de uma vez por todas, uma cultura de responsabilidade e uma cultura de verdade" Será que Cavaco Silva se ouve a si próprio?

“Decidirei nos termos dos meus poderes constitucionais e colocando sempre em primeiro lugar o superior interesse nacional." Qual nação? A Fitch? É que em comunicado a 10 de Novembro, a Fitch referiu que "um Governo liderado pelo Partido Socialista, de centro-esquerda, e apoiado pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Comunista Português, mais radicais, iriam levar a uma maioria parlamentar", mas alerta que "isto não vai eliminar a incerteza política". Para além de ser uma grave ingerência nos assuntos nacionais, parece que o Presidente da República português concorda com ela.

Cavaco Silva esqueceu-se de dizer que cabia agora a António Costa controlar a Fitch, e restantes agências de rating, o FMI e as diversas agências financeiras. No fundo, o que Cavaco Silva quer é que Costa seja responsável pelo sistema financeiro mundial. Terminaria com um conselho que Cavaco Silva deixou ao governo grego "O governo grego foi aprendendo que a realidade é diferente dos sonhos”. Senhor Presidente, a realidade é diferente dos SEUS sonhos!

C. entregou uma pizza #à pai tirano

domingo, 22 de novembro de 2015

Estados falhados e a falha do Estado

Índice de Estados falhados; fundforpeace.org
O conceito de “Estado falhado” surge frequentemente associado àqueles países subdesenvolvidos que não têm estruturas básicas de serviço às suas populações. Mas, ao contrário do que esta designação possa indicar, estes não são países onde o Estado falhou, mas sim onde o Estado nunca chegou a nascer. Estes casos estão bem estudados pelos especialistas. De uma forma genérica, são caracterizados por uma corrupção generalizada, que permeia todos os segmentos da população e todas as actividades, um sistema político não democrático, cujos actores se eternizam no poder através da ausência de eleições livres, a ausência de uma máquina fiscal eficiente, um sistema judicial dependente do poder político e económico, e a ausência de uma imprensa livre e reguladora. Serviços públicos fundamentais, como educação, saúde e forças de segurança pública, não têm financiamento adequado. Infra-estruturas básicas, como estradas, escolas e hospitais, são deficientes. Os poucos serviços que existem são muitas vezes olhados como dádivas de um ditador benevolente, ou como benesses de senhores da guerra ou grupos organizados que controlam aquilo que, no terreno o Estado não consegue ou não quer fazer. Regra geral, a ausência da máquina administrativa do Estado não tem como origem um problema de financiamento, mas sim de gestão. Em muitos casos, estes países são muito mais ricos em recursos naturais do que países ditos desenvolvidos, recursos cujo rendimento passa completamente ao lado da larga maioria da população. Os poucos países que evoluem para um sistema democrático e mais igualitário são aqueles cujos cidadãos conseguem libertar-se das amarras da impotência e indiferença, e se substituem àqueles que se servem do sistema, edificando novas instituições que permitem, ao longo do tempo, a construção de um sistema mais equilibrado e mais justo.
Ao mesmo tempo, nos países industrializados, a tendência é a oposta. Prospera a ideia de que os Estados modernos cresceram excessivamente, e que a sua pesada burocracia limita o crescimento económico e a liberdade individual. Os mercados liberalizados deverão auto-regular-se e a economia de mercado deverá substituir a máquina pouco eficiente do Estado, passando os serviços privados a prestar os serviços básicos à população. Educação, saúde e transportes são as áreas centrais em que se verifica a transferência de competências e responsabilidades do sector público para o privado. E a principal justificação apresentada para esta tendência é, além da suposta ineficiência dos serviços públicos, o problema de financiamento do Estado. Paralelamente, as diversas instituições democráticas, que deveriam ser independentes entre si, e confiáveis aos olhos da população, vivem tempos de crise. Face à diminuição na quantidade e qualidade dos serviços públicos, a máquina fiscal é paradoxalmente cada vez mais pesada. O sistema judicial é demasiado lento e aparenta ser permeável à influência do poder económico e político. A dependência dos actores políticos em relação ao sistema económico e interesses privados levam a um crescente distanciamento dos eleitores em relação aos seus representantes, e a uma crescente sensação de indiferença, revelada por exemplo na diminuição da participação cívica e política da chamada sociedade civil, e nos elevados valores da abstenção em todos os actos eleitorais.
E aqui se fecha o círculo. Ao mesmo tempo que tomamos como garantido o facto de termos um Estado capaz de executar tarefas básicas, lentamente estamos a esvaziá-lo da sua capacidade real de interferir positivamente na gestão do país. Ao mesmo tempo que tomamos como garantida a democracia, abusamos das instituições democráticas, descredibilizando-as aos olhos da população. Ao mesmo tempo que tomamos como garantida a separação, responsabilização e regulação mútua dos poderes institucionais, assistimos à degradação diária das estruturas governativas e à evidente promiscuidade dos diferentes poderes instituídos. O desfecho lógico deste processo é claro, ainda que seja difícil reconhecer aos olhos daqueles que tomam como garantido tudo aquilo a que estamos habituados. Tal como os casos dos Estados falhados demonstram, quando o Estado desaparece, alguém ocupa sempre o vazio na estrutura do poder. É que quando o regime democrático deixa de funcionar para os cidadãos, que são, afinal, a razão da sua existência, perde a sua legitimidade e é apenas uma questão de tempo ser substituído por outro.

R. entregou uma pizza #à politicamente irrelevante

sábado, 21 de novembro de 2015

Família

A Assembleia da República aprovou esta semana a adoção por casais homossexuais.
O preconceito prontamente se levantou. "Uma criança deve der gerada por um ser masculino e um ser feminino. Uma criança deve ser criada por um homem e uma mulher."
Se considerarmos estas premissas vindas de uma visão conservadora e católica então Jesus é um bom mau exemplo... não cumpre logo a primeira parte da premissa afinal... foi gerado por uma mulher e uma entidade etérea e extra-terrena cujo género desconhecemos apesar de se querer há muito tempo fazer crer que é um homem...
Se calhar, porque foi gerado desta forma é que se tornou no rebelde que alguns vêm nele.

Ora portanto temos que cada ser humano precisa, condição sine qua non, de ser criado por um homem e uma mulher. 
Perderam a mãe ou o pai ou dois bem cedo na vossa vida? Estão condenados ao insucesso social, emocional, profissional.
Foram criados pela vossa mãe e a vossa avó? Vão degenerar! 
É garantido... ou temos um pai e uma mãe ou vamos ser cepa torta.
Se, pelo contrário, formos criados por um casal heterossexual então o scesso é garantido. Vamos ser pessoas de bem, bem estruturadas, bem formadas, capazes!

Todas as pessoas más que existem na nossa sociedade terão sido, certamente, criadas por casais homossexuais ou monoparentais. E nenhuma criada nestas condições se aproveita! Afinal faltou-lhe uma referência, não é? São ou serão maus, desorientados, com mentes distorcidas e sem valores.
Toda a gente sabe que a falta de afeto, de amor, de carinho, de compreensão e de tolerância é exclusivo das famílias homossexuais ou monoparentais.
Toda a gente sabe que só nestas famílias há violência, abusos, desrespeito, indiferença.

Os casais homossexuais são mau exemplo! Os beijos entre os elementos do casal não são sinal de afeto, são badalhoquice, "balha-me" deus! E essa gente só faz ordinarices à frente das crianças...
As crianças precisam mesmo de uma família heterossexual para perceberem bem qual é o seu lugar na sociedade. A lavar louça e a fazer a comida se forem mulher, a ler o jornal e a gritar a ver a bola se forem homem. Estamos perdidos se não temos estas referências!

Quanto às criancas que estão institucionalizadas (seguramente provenientes de famílias monoparentais ou homossexuais)... estão muito melhor nos lares, a salvo da frieza, dos maus tratos, dos abusos, da massificação do que estariam numa família dessas.
Os lares são sempre uma escolha preferível a um casal homossexual ou a um pai/mãe que queira criar uma criança...

Felizmente o nosso país, cheio de defeitos e problemas, é cada vez menos casa do preconceito e do conservadorismo alheado da realidade.
Felizmente Portugal deu mais um passo no caminho do bem-estar social, do verdadeiro desenvolvimento. Um passo muito mais importante do que uma qualquer subida nos rankings de agências de notação ou do que evolução de pontos percentuais no PIB.

Somos hoje uma sociedade mais justa e evoluída e por isso devemos orgulhar-nos. 
Somos um elemento mais válido da família da humanidade e do humanismo.


J. entregou uma pizza à amigo secreto e #à são todos pretos

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

“O bem não é exclusividade da França, da Europa ou do Ocidente”


“O bem não é exclusividade da França, da Europa ou do Ocidente”

A propósito do seu novo livro "Mulheres de cinzas" lançado esta semana no Brasil.  "...tanto a violência em nome de Deus feita pelos radicais islâmicos, quanto essa ideia maniqueísta de que o Ocidente é o bem que está sendo atacado pelos outros, que são o mal. É preciso se solidarizar com a França, claro, o ataque foi terrível, mas também precisamos estar atentos às pessoas que estão passando pelo mesmo em outras partes do mundo. Não se pode esquecer que esses atentados são quotidianos no norte de África, no Médio Oriente … O que aconteceu em Paris acontece toda as semanas em outros lugares do planeta, e a nossa solidariedade não se manifesta da mesma maneira quando isso ocorre na Europa. Quando o Estado Islâmico massacra pessoas na Síria não estão a atacar a civilização também? Não estão a atacar o bem? O bem não é exclusividade da França, da Europa ou do Ocidente."
Assertivo e interventivo.... como gosto...


A. entregou uma pizza # à amigo secreto

terça-feira, 17 de novembro de 2015

A ignorância é uma bênção

No rescaldo dos atentados de 13 Novembro em Paris, François Hollande dirigiu-se ao país e, num discurso sem precedentes, disse que iria rever a constituição francesa de forma a retirar direitos aos cidadãos. Incrivelmente, a maioria dos cidadãos do mundo não reagiu. Pareceu-lhes bem. Tinham sido atacados, havia que tomar medidas drásticas. Mas, o que a maioria destas pessoas não perceberam é que também elas, as vítimas, iam perder esses direitos, ou seja, iam ser duplamente vítimas, ora dos terroristas, ora dos seus governantes. Nessa mesma noite, o facebook lançou uma aplicação que permitia a todos os seus utilizadores alterar a sua foto de perfil com apenas um clique. Era fácil, a maioria das pessoas fizeram-no, e as redes sociais inundaram-se com perfis com os tons da bandeira francesa. Esses mesmos perfis pediam justiça e retaliação contra o Estado Islâmico, grupo terrorista que reivindicou os atentados. No dia seguinte, ainda as cores das bandeiras francesas inundavam as redes sociais e já a França bombardeava a Síria. 130 mortos, era o balanço do primeiro raide francês depois dos atentados. Segundo o The Guardian, nas últimas 24 horas, saíram 10 aviões franceses de bases nos Emiratos Árabes Unidos e na Jordânia, que lançaram 16 bombas sobre o norte do território iraquiano. Desta vez, o número de mortos não foi divulgado. Por esta altura, as cores das bandeiras francesas iam desaparecendo dos perfis das redes sociais. Não creio que por terem tomado consciência de que há atentados cometidos em muito mais lugares do mundo, muito menos por considerarem que também os bombardeamentos no Iraque e na Síria eram atentados contra a humanidade. Simplesmente porque se cansaram, simplesmente porque a vida continua e simplesmente porque a morte cansa. Mas, terão todas essas pessoas percebido a força que deram ao governo francês nas medidas que vão ser tomadas no mundo? No dia seguinte, no senado francês, François Hollande anunciou:

- ofensivas a partir de 5ª feira, usando um porta aviões no mediterrâneo, e “não haverá hesitação e nenhuma trégua
- a proibição de um cidadão que tenha duas nacionalidades voltar à França se ele apresentar risco de terrorismo.
– a possibilidade de dissolver organizações religiosas que propagam o ódio e o terror.
– o acesso, para juízes antiterrorismo, a todas as formas e meios de investigação.
- a prisão domiciliária para todos aqueles que regressem da Síria e do Iraque.

Mas François Hollande não enganou o mundo nem os franceses. Ele disse “a França está em guerra” e “vai triplicar o seu poder de acção contra o Estado Islâmico”. Essa era a verdade inconveniente mas o mundo não a ouviu com atenção. Há muito que a França estava em guerra com o Estado Islâmico, bombardeando a Síria e o norte do Iraque.  A população é que talvez não soubesse, ou melhor, não queria saber. Todas as guerras têm retaliações. O governo francês sabia-o. A população, aparentemente não. Mas a população sabia ainda menos. Não sabia que os direitos de todos os cidadãos iriam ser alienados, que o mundo ia tomar consciência que a vida humana não tem o mesmo valor em todos os lugares da Terra, e que, acima de tudo, a guerra contra o Estado Islâmico ia servir os propósitos dos interesses económicos mundiais. A indústria de armamento é responsável pelo crescimento económico francês dos últimos anos, gerando 8.2 mil milhões de euros no ano de 2014. É a indústria que mais cresce em França. O seu principal mercado exportador é o Médio Oriente. A França vende para o Médio Oriente e bombardeia esse mesmo armamento.

A esmagadora maioria das pessoas que mudaram a fotografia nos perfis das redes sociais fê-lo achando que estava a demonstrar humanismo e solidariedade para com as vítimas em França. No entanto, o que aquelas centenas de milhares de pessoas não sabiam é que, de forma indirecta, estavam a dar o seu contributo para a legitimação mediática das violações dos direitos fundamentais dos cidadãos, bombardeamentos indiscriminados na Síria e no Iraque, e, mais uma vez, o enriquecimento das empresas de armamento. No fundo, a maioria da população está completamente alheia ao que se passa no mundo. É caso para dizer, a ignorância é uma bênção.

C. entregou uma pizza # à fritei a pipoca

Expectativas

"Eu também estive cinco meses (com governo) em gestão" diz o menino Aníbal numa atitude birrenta do alto dos seus cinco anos de idade. Eu sei que o melhor do mundo são as crianças. Mas também sei que as crianças têm de ser educadas. Temos de lhes transmitir confiança, acarinhá-los, dar colo, mudar a fralda, ensiná-los a respeitar os mais velhos, passar-lhes valores como a partilha, a amizade, o respeito e a decência.

O comentário, feito por aquele a quem o ex-presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim uma vez chamou "Sr. Silva", revela uma de duas coisas: os pais do Sr. Silva não fizeram bem o seu trabalho em Boliqueime ou o Sr. Silva que até chegou a professor universitário, pode ser bem muito bom economista mas não será tão boa pessoa ou tão bem formado quanto merecíamos.

Nada disto seria grave ou até digno de nota, se o Sr. Silva não fosse o Presidente da República Portuguesa e quem tem em mãos, no momento em que escrevo, a decisão de dar um Governo ao país. (Antes que me caiam em cima: sim! Eu também sou daqueles que acha que não nos faz falta nenhuma um Governo. Senão vejamos: tudo tem funcionado na forma do costume. Os serviços públicos não pioraram por estarmos sem Governo, há combustível nas bombas, comida nas prateleiras dos supermercados,...)

Como eu dizia (ou melhor escrevia!) a atitude do Sr. Silva revela pouco respeito pelos cidadãos portugueses, pelas instituições democráticas, nomeadamente a Assembleia da República, pelos partidos políticos (O que não sei se se pode criticar muito. Alguns põem-se a jeito!), mas a parte pior é o comportamento do sr. Silva em protelar dar um Governo ao país, estar a colocar em risco o país. Não fui fã da atuação do moribundo governo de coligação PSD CDS-PP. Mas os "mercados", as agências de rating, a Comissão Europeia, a troika e a Merkel gostaram. Não que isso me entusiasme, mas saber os juros da dívida desceram e que o clima económico melhorou, não se pode dizer que sejam más notícias. Pena que esses resultados tenham sido obtidos à custa dos trabalhadores em benefício das instituições criminosas digo, financeiras, dos quais se destacam, BPN, BPP, BES, BANIF Novo Banco e sabe-se lá mais quem.

Eu estou um bocadinho cansado de ter cortes no vencimento, de receber o subsídio de natal em duodécimos, de pagar mais sobretaxa de IRS, mas principalmente estou cansado do sr. Silva, a múmia. Em 1995 na tomada de posse do primeiro governo do Eng. Guterres foi-se abaixo das canetas, no 10 de Junho do ano passado diz que foi uma reação vagal.

 Mal posso esperar pela tomada de posse do novo Governo saído da maioria de esquerda existente no Parlamento para saber qual vai ser a travadinha que vai dar ao Sr. Silva.

E. entrega uma pizza #à soda cáustica  e #à coçador

domingo, 15 de novembro de 2015

Números...

A propósito da suposta islamização da Europa...

Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Estudo Económicos francês a maior comunidade de emigrantes em França é a portuguesa (8%). A esta segue-se a argelina e a marroquina.
Se considerarmos os estrangeiros residentes e os descendentes diretos temos mais de 3 milhões de portugueses, espanhóis e italianos. Este número subiria consideravelmente se passássemos para terceira ou quarta gerações. Entre tunisinos, marroquinos e argelinos temos pouco mais de três milhões.
Dos doze milhões de emigrantes ou descendentes que residem em França, com raízes em todo o mundo (lembre-mo-nos que a França teve colónias/tem territórios em África, na Ásia, na Oceânia, nas Américas) aproximadamente três milhões e meio são do Magrebe.
As comunidades imigrantes existentes em França não são recentes. Desde, pelo menos, a Segunda Guerra Mundial a França viu chegar gente das ex-colónias, do sul da Europa e até da Europa de Leste.

Qual é a língua oficial da França? Francês. 
Então e o português? E o espanhol? E o italiano? E o árabe? Com tantos anos de invasão/ocupação ainda não se conseguiu impor a língua? Podemos sempre dizer que os argelinos, os marroquinos e os tunisinos, entre outros, não podiam impor uma das suas línguas na medida em que ela é, precisamente, o francês que, já agora lhes foi imposto (assim como o português, o espanhol e o inglês em tantas partes deste mundo).

Qual é a religião predominante em França? Baseio-me nos dados relativos a 2015 do Factbook da CIA: Cristianismo - 65% (a maioria católicos), Agnosticismo/Ateísmo - 26%; Islamismo - 8%; Judaísmo, Budismo e outras - menos de 1% cada. 
Onde está a islamização? Ou a "judaização"? Parece que a maior ameaça pode vir do agnosticismo ou do ateísmo... esses sacanas!

Onde estão as marcas profundas do Islão na sociedade francesa? E as marcas lusitanas? E as espanholas? Na gastronomia? Na música? No cinema? Na literatura?

O nosso país tem uma comunidade imigrante considerável e, na minha opinião, muito bem integrada. Temos gente de vários continentes, de várias religiões, que fala diferentes línguas.
O que nos foi imposto por essas gentes? A cachupa? O chop-suey? A caipirinha?
Por acaso o cristianismo ortodoxo dos ucranianos é agora a religião principal de Portugal?
O fado deu lugar ao samba ou à bossa nova?
Os ranchos folclóricos dançam agora kuduro? (Era giro!!)
As tripas, o sarrabulho, a açorda e o pastel de nata desapareceram para dar lugar ao borchst, ao pato à Pequim ou à couve mineira?

Integrar e ser integrado. É um processo saudável e enriquecedor. Para além de potenciador da compreensão e da paz.

J. entrega uma pizza #à são todos pretos

sábado, 14 de novembro de 2015

O ocidente humanista… o oximoro perfeito

Acho que já foi tudo dito… a perplexidade perante a barbárie, a condenação veemente ao fanatismo religioso, a tristeza perante a frieza das mortes, a repulsa que a execução sumária de gente comum a todos nos traz…mas perdoem-me a insensibilidade de dizer que de discursos de Miss Universo a endossar votos de paz e amor no mundo já estou farto. Todos o queremos, com mais ou menos atributos físicos dignos de concursos de beleza, todos queremos um mundo melhor, mais justo e igualitário. Vá lá… Quantos de nós não mudámos de canal quando no bloco de notícias internacionais, bem lá para o final de um qualquer telejornal diário, num qualquer canal televisivo, se noticiava mais um ataque suicida na Faixa de Gaza, ou no Iémen, ou num qualquer outro canto do mundo lá para oriente. Era tempo de ir à cozinha buscar qualquer coisa para comer…mais uns quantos que morriam, lá na terra daqueles que nunca se entendem e resolvem tudo com bombas. Insensibilizámo-nos do sangue e dos gritos de dor… era lá longe. Mas aqui, dentro de portas, não… aqui impressionamo-nos. A proximidade geográfica e cultural, talvez até religiosa, exacerba a nossa indignação? Compreendo, mas não nos pode cegar. Terror e morte, há infelizmente em todo o lado, a toda a hora e em quase todas as latitudes. Que raio de indignação é esta que só se manifesta quando ouvimos aqui ao nosso lado os tiros. Que porra de repúdio é este que só é propalado  aos sete ventos quando são as nossas paredes que ficam cobertas de sangue? Vá lá…. Não sejamos Miss Universo, discursando em lágrimas em nome de um mundo melhor. Nada tenho contra elas e os seus discursos. Mas dói-me a alma esta forma, às vezes quase inocente, quase inata- nascemos no lado certo do mundo- de sermos ocidentalmente superiores. Somos os culturalmente elevados, os pais da tolerância e da igualdade, os criadores assumidos da solidariedade… Tão longe dos bárbaros e fundamentalistas tacanhos que vindos do andar de baixo do desenvolvimento, algures de África ou do Próximo Oriente se matam uns aos outros, ou que cometem a audácia de em insufláveis e pequenas barcaças entre nós procurarem refúgio… Sejamos Charlie, ou pintemos os nossos murais com a tricolor francesa mas, é também nossa obrigação não mudar de canal quando lá longe morrerem inocentes, informarmo-nos porque morrem, porque se matam, porque nos insultam e nos odeiam… Inquietemo-nos com as invasões, acções armadas ou apoio logístico que os nossos iluminados líderes decidem levar a cabo nesse andar de baixo. Quanto desse sangue que lá tão longe se derrama vem impresso nos nossos boletins de voto?? 


Manifestemos a perplexidade e a indignação hoje. Mas em nome dos valores humanistas que nos envaidecem, manifestemos sempre…


 A. entrega uma pizza  #à são todos pretos

C' est la vie!

O dia de ontem, 13 de Novembro 2015, vai ficar na memória colectiva como o dia dos atentados em Paris. Aqueles atentados em que, segundo as últimas contagens, cento e vinte e oito pessoas perderam a vida, mais cerca de trezentas estão feridas (noventa e nove em estado grave) na sequência de numa série de ataques terroristas reivindicados pelo Estado Islâmico.

As reacções não se fizeram esperar: nos media, nas redes sociais, nas conversas de café cedo se começou a destilar ódio dirigido ao Estado Islâmico, em particular e ao Islão, em geral.

Infelizmente, os principais visados vão acabar por ser os refugiados que têm chegado à Europa nos últimos meses, correndo enormes riscos para conseguirem chegar às margens do Mediterrâneo. basta ver o anúncio por parte da Polónia de não aceitar mais refugiados. Embora isso venha na sequência dos muros da vergonha na Hungria e de ameaças de fronteiras encerradas um pouco por toda a Europa. Nada de novo, portanto.

Da mesma forma, os atos do Estado Islâmico relativamente ao ocidente também não são nada de novo. Dezenas (centenas?) de decapitações, destruição de aldeias, vilas e cidades. Violações de mulheres e assassínios indiscriminados. Destruição de património histórico e cultural. E durante todo este tempo, o que fez o Ocidente? Assobiou para o lado. Não é nada connosco. É na Síria. E no Iraque. E no Afeganistão. E na Turquia. E ontem foi em Paris.

Os crimes de ontem em Paris chocam. Ver cadáveres de crianças a boiar nas margens do Mediterrâneo choca. Filmagens de decapitações choca. A fome no mundo choca. As desigualdades entre ricos e pobres são cada vez mais chocantes. O desrespeito pelos direitos humanos choca. A parcialidade dos meios de comunicação choca.  As centenas de pessoas que perdem a vida na travessia do mediterrâneo choca. A inacção dos governos ocidentais choca.

Porém, quando somos constantemente bombardeados com factos chocantes, temos tendência a aceitar todos estes factos chocantes (e tantos outros que podia referir aqui!) como normais.

Portanto, para muitos, os acontecimentos trágicos de ontem em Paris foram só mais uns. Vamos falar disto durante uns dias, uma ou duas semanas no máximo e depois voltamos às nossas vidinhas de todos os dias.

 Os energúmenos do Estado Islâmico fazendo-se explodir em locais cheios de gente poderão ter dito entre dentes enquanto premiam o gatilho que activou os explosivos: c'est la vie!

E. entrega uma pizza  #à tou que nem posso

Somos todos vítimas e somos todos culpados

Entre a noite de ontem e a hora em que “preparo esta pizza” não aconteceu um atentado… aconteceram ou estão a acontecer três! Mas antes destes três… Um outro. O pai de todos os atentados. O atentado à dignidade, à inclusão, à paz, à harmonia. Que atentado é esse?

Para não recuarmos muito na história da humanidade recordemo-nos apenas do que era o planeta no início do século XX. Uma série de pequenos países da europa dominavam uma série de enormes territórios e povos. Povos diversos dos europeus e entre si. Culturalmente, religiosamente, historicamente, fisicamente, linguisticamente diversos. Durante séculos os pequenos europeus exploraram a seu belo prazer. Enfraquecidos enfim mas ainda a contragosto regressaram, de barriga cheia e consciência leve para casa. Deixaram atrás de si injustiça, guerra, pobreza, fome, exploração, barris de pólvora e caixas de fósforos.

É surpreendente que atrás dos pequenos europeus viessem os povos calcados à procura de uma vida melhor? É inaceitável? É incompreensível? Os pequenos europeus perceberam que não. Não era surpreendente ou inaceitável. Era absolutamente compreensível. Mas… ficaram-se por aí. Os recém-chegados nunca foram alvo de atenção. Conquanto ficassem no canto deles… Tudo muito bem! Até podiam ser úteis. Se foram explorados lá, na terra deles, cá, na pequena europa, fazia ainda mais sentido explorar.

E foi este espírito de explorador (no pior sentido da palavra) que nos trouxe ao lugar onde estamos. Um continente isolado. A esconder a cabeça na areia. E a tentar alhear-se dos problemas que criou lá fora e que promoveu cá dentro.

Desde quando se achou que bastava permitir que o explorados viessem para a pequena europa, tivessem um trabalho muitas vezes mal remunerado e não se desse nenhuma atenção à integração? A integração que, de resto, devia ser das duas partes!

O atentado de ontem foi um atentado à humanidade, à paz, à vida dos comuns. No lazer dos comuns. Nos restaurantes, num estádio de futebol, num concerto! Quem o cometeu foi, pelos vistos, o Estado Islâmico. Mas também a intolerância, da ignorância, do preconceito. Perdeu-se perto de cento e cinquenta vidas (e a contar) mas, desculpem-me a eventual frieza, perdeu-se muito mais do que isso. Perdeu-se a vergonha.

O segundo atentado aconteceu na Polónia. Dizer-se que, à luz dos atentados de ontem já não é possível acolher refugiados é, no mínimo, conveniente e desavergonhado. No caso deste atentado as vítimas foram a vergonha e a União Europeia. Quase aposto que em algumas cúpulas de poder, em alguns partidos, em alguns círculos, se esperava ansiosamente por um momento como o de ontem. Era o argumento que faltava.

Aqui, na pequena europa, já não existe União Europeia. O que existe é uma “coisa” chamada Eurozona. Essa é a única que realmente parece importar. Agora… União? Onde está a memória dos povos europeus? Dos que passaram por guerras violentas e opressões sufocantes? A sensação que fica é a de que quanto mais se sofre no passado mais que se quer fazer sofrer.
A União Europeia morreu há já algum tempo. E ninguém lhe disse nada.

O terceiro atentado acontece nas redes sociais neste preciso momento. Vítimas? A inteligência e a tolerância. É impressionante como o uso da liberdade de expressão (que também eu uso neste momento) dá permissão ao ultraje, à agressividade, à presunção.

Os próximos tempos, imagino eu, vão trazer-nos posições extremadas, mais intolerância, mais violência, mais atentados, mais vítimas. Fossem as vítimas “apenas” seres humanos e já estaríamos mal. Mas a vítima maior é a humanidade.

J. entrega uma pizza #à Arrebentábolha

Bataclan, refugiados, globalização e tudo isso

O presidente francês classificou os acontecimentos da noite do dia 13 de Novembro como “um acto de guerra”. São isso mesmo, nem mais, nem menos. Estes actos terroristas não são actos contra os regimes democráticos. Mas a resposta dos nossos líderes poderá ser, se a opinião pública se deixar amordaçar um pouco mais para garantir a sua dita segurança. Estes actos terroristas não são actos contra a civilização. Mas a resposta dos nossos líderes poderá ser, se continuar a escalada de guerra em territórios longínquos. A história conhecida dos homens ensina-nos que a civilização está assente na barbárie. Uma não existiria sem a outra. E a nossa não é excepção. São actos bárbaros? São. Os terroristas atiraram indiscriminadamente? Sim. Mas esta barbárie apenas imita a barbárie de bombardeamentos de aviões e drones, que matam indiscriminadamente e são ordenados pelos nossos líderes. São actos de guerra legítimos? De acordo com a convenção de Genebra, ou outras leis que rejam a conduta de guerra, não. Mas na prática, no terreno, sim, são. O terrorismo sempre foi a arma dos beligerantes mais fracos, muitas vezes a única forma de combater um inimigo muito mais forte. Tempos houve em que os nossos antepassados lusitanos, tão glorificados quando nos convém, eram terroristas bárbaros face ao império romano. Ou os angolanos que combatiam no mato nos anos 60, terroristas face ao regime de Salazar, mas mais tarde legitimados pela descolonização. E os exemplos podiam encher páginas. Mas qual a diferença entre estes actos e os do século XXI? Como em quase tudo que se passa no mundo, a explicação passa pela a globalização. Enquanto no passado, os terroristas não tinham outra opção senão fazer a guerra no seu próprio território, hoje é-lhes possível trazer o terror às portas daqueles que, em primeiro lugar, o trouxeram para os seus países. 

Estes actos também não são fruto de fundamentalismo islâmico. Repito, são actos de guerra, perpetrados como retaliação a actos que são cometidos pelos nossos países, a milhares de quilómetros de distância, com o nosso consentimento, implícito ou explícito. Os ideais religiosos ou políticos foram sempre uma capa para esconder a verdadeira razão da guerra: a luta pelo poder e domínio sobre os outros. E as guerras de hoje não são excepção. Durante o período da guerra dita fria, o calor da verdadeira guerra aqueceu grande parte do globo. América do Sul e Central, Ásia e África foram alvo dos interesses dos dois grandes beligerantes, sob a capa do antagonismo dos ideais políticos. Mas após a queda da URSS, tudo ficou mais claro, mais límpido. As guerras que se seguiram, não só as intervenções militares dos EUA e seus aliados, mas também as guerras civis instigadas pelo Ocidente, das quais a guerra na Síria é o exemplo mais flagrante, mostram algo que já se verifica há 500 anos, mas que hoje é mais fácil de se tomar consciência: o mundo ocidental está em guerra com o resto do mundo. O nosso estilo de vida, com todos os seus aspectos positivos, quer materiais, quer institucionais, tem um lado lunar. A nossa sofisticação material e política tem um custo; as nossas democracias são construídas à base do amordaçamento da liberdade de expressão noutros países, os nossos carros andam com combustível que alimenta a pobreza, as nossas roupas de marca são feitas de trabalho infantil e escravo, as nossas cidades são construídas sobre os escombros de regimes ditatoriais. A guerra em Damasco já mata há 5 anos; mas só nos lembramos dela quando vemos as imagens dos bombardeamentos, ou dos cadáveres de refugiados a flutuar no Mediterrâneo. Ficamos chocados quando a guerra chega às ruas de Paris. E fingimos que não temos responsabilidade; somos inocentes; as vítimas de Paris eram inocentes. Não, não eram. Não, não somos. 

Uma das características, talvez a mais central, de um Estado de Direito democrático moderno deverá ser uma opinião pública esclarecida. Só dessa forma é que os regimes democráticos resistirão aos desafios do século XXI, não resvalando para regimes autoritários. Mas as elites governativas não têm interesse numa opinião pública esclarecida. O status quo tem de ser mantido, a todo o custo. Têm de ser as próprias populações a acordar para a realidade, senão acordarão ao som de bombas. Nós, a opinião pública dos países ocidentais, temos de nos confrontar com a realidade exterior aos nossos próprios países, por muito difícil e custoso que isso se venha revelar. Temos de tomar consciência dos actos perpetrados pelos nossos governos no Médio Oriente e em África, e das suas gravosas consequências. Temos de perceber porque milhares de pessoas fogem dessas regiões e se dirigem para os nossos países. 

E depois temos de decidir. Podemos lutar para que os nossos governos mudem, fazendo pressão através do voto, mas não só, para que os interesses económico-financeiros não sejam os únicos a ditar a política externa dos nossos países, e para que o nosso estilo de vida não tenha de ser construído em cima da miséria de outros. Se esta tomada de consciência for feita por iniciativa própria, poderemos poupar a Europa a um prolongamento sem fim do terrorismo no nosso território. Ou, podemos apoiar a política vigente, e passar a encarar o terrorismo como um mal necessário. Assumimos a nossa posição beligerante, do lado daqueles que nos trouxeram até aqui, construímos muros, e reconhecemos que o nosso modo de vida é o bem supremo, lidando bem com o mal-estar dos outros, desde que longe da vista. A opção está nas nossas mãos. Se deixarmos a decisão entregue apenas aos nossos governos, a escolha já foi feita. 

R. entrega uma pizza #à sodacáustica, #à fritei a pipoca e #à incendiário

No coração do Prémio Nobel da Paz

O que aconteceu em Paris, a 13 Novembro de 2015, é deplorável e hediondo. Há a lamentar dezenas de vítimas inocentes. Todos nós as lamentamos. Disso não restam dúvidas. As redes sociais inundaram-se de sinais de consternação, pesar e apoio. Neste mesmo mundo, quantos de nós lamentamos as vítimas inocentes que os rebeldes sírios (apoiados pelos países europeus e EUA) fizeram na Síria? Quantos de nós lamentamos as centenas de vítimas que a NATO (o exército dos países europeus e norte-americanos) fez na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, no Mali e na Somália? Será que os países europeus alguma vez pensaram que podiam levar a guerra para o resto do mundo e que isso nunca iria regressar? Uma guerra é um confronto directo entre dois ou mais grupos distintos, utilizando-se armas para tentar derrotar o adversário. Uma guerra tem sempre dois lados, os dois atacam, os dois defendem. Quem faz a guerra sabe que, quando envia exércitos para atacar um determinado grupo ou país, esse vai retaliar. É a guerra. Será que os países de Europa não sabiam? Sabiam, claro que sabiam.

Mas a guerra hoje não é feita apenas com exércitos formais. A guerra não se restringe à disputa entre países. Há cada vez mais forças e poderes transnacionais e é aqui que entra o terrorismo. Os estados deixaram de dar resposta a uma grande fatia da população mundial e a segregação social levou à criação de grupos justiceiros que crescem um pouco por todo o mundo. Crescem na Europa, nos EUA, no Médio Oriente, na Ásia ou na Oceânia. Os excluídos de um sistema estadual são cada vez mais. A França, o Reino Unido, a Alemanha, os EUA, a Rússia, alimentam em jovens o exército do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL). Segundo a ONU, há mais de 15 mil estrangeiros a combater nas fileiras do EIIL, provenientes de mais de 80 países. Os europeus estão na linha da frente com a França e a Bélgica a liderar o número de pessoas que se junta a este grupo.

No dia em que a UE recebeu o Prémio Nobel da Paz todos perceberam que o prémio era mal atribuído. Porquê? Porque a UE arrastava centenas de jovens muçulmanos, cristãos e ateus para a marginalização, cada vez são menos instruídos, educados e afastados da possibilidade de garantir um futuro melhor. Os subúrbios das cidades europeias estão a transformar-se em guetos sociais e raciais, onde se concentram cada vez mais jovens a quem os sistemas de educação não dão resposta. O desinvestimento na escola pública e a criação de cursos destinados a alunos excluídos afastou o ideal da igualdade na Europa. Jovens arrastados para a marginalização, para o desespero, desprovidos de valores morais tornam-se vítimas fáceis. A Europa não importou dos EUA apenas um modelo económico, com este veio também um modelo social e é a isso que a Europa assiste na actualidade. Esta segregação social, económica e racial ajuda a promover o fundamentalismo. Estes jovens são vítimas fáceis, não têm nada a perder, andam à deriva, têm famílias disfuncionais onde predomina o desemprego de longa duração. São estes jovens que partem para se alistar no EIIL. Infelizmente, o que aconteceu em Paris é o resultado de algo muito mais complexo do que um simples "foi o Estado Islâmico" e infelizmente, há a lamentar milhares de vítimas inocentes espalhadas pelo mundo, franceses, sírios, espanhóis, afegãos, ingleses, iraquianos, somalis… Há, no entanto, que fazer muito mais do que espalhar o medo.

Felizmente, o Islão não é o Estado Islâmico. Fundamentalistas há-os em todos os cantos, quer no Islão, quer em Israel, quer na Europa. Mas será sobre a comunidade islâmica que o mundo irá exercer a suas frustrações, os seus devaneios e, principalmente, o seu medo. Sim, porque o terrorismo vive do medo e o medo é uma arma poderosa. Podemos e devemos ter medo, mas não podemos deixar que o medo molde os nossos julgamentos. O EIIL é um grupo fundamentalista islâmico que aterroriza o Médio Oriente. É deles que fogem os refugiados que correm aos milhares para a Europa. É contra eles que a população com medo ergue a sua voz. O medo leva a que os europeus tenham medo daqueles que fogem do medo. É estranho. Vivemos num mundo complexo e a humanidade parece escapar-se entre os dedos das mãos da população, como se de areia fina se tratasse. Marine Le Pen pode ter ganho as eleições francesas na noite de 13 de Novembro e isso é uma vitória do medo sobre a humanidade.  

C. entrega uma pizza #à são todos pretos e #à politicamente irrelevante
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