sábado, 28 de novembro de 2015

Gestão de expectativas

Agora que já se deu a tomada de posse, receada por uns, temida por outros e protelada até ao limite do possível por um outro pobre diabo que por aí anda, agora a fazer ameaças veladas de que tem os seus poderes intactos (pode sempre ir à ComicCon no próximo fim de semana, brincar aos super heróis!) será porventura altura de deitar um pouco de água na fervura.

Escrevo, deitar água na fervura, porque pelo que vou vendo espalhado por aí, pelas redes sociais parece-me que há um grupo de pessoas que está com expectativas muito elevadas em relação ao Governo  do Partido Socialista apoiado por acordos bilaterais com BE, PCP e PEV que ainda agora tomou posse.

De repente depositam-se muitas esperanças num governo de esquerda do PS. Ora isso constitui uma novidade, até para o próprio Partido Socialista. Até agora, e tanto quanto me lembro, o Partido Socialista sempre governou ao centro. E mais estranhamente, à direita. Por vezes, mais à direita do que o próprio PSD. Os governos do engenhoso Sócrates apresentaram, propuseram e efectivaram medidas tão ou mais liberais do que o governo do PSD de PPC/PP.

Os eleitores de esquerda que apoiaram a decisão de António Costa de se aliar ao Bloco, ao PCP e aos Verdes estão à espera que chegue agora uma política de esquerda que apoie os trabalhadores, melhore os apoios sociais e que privilegie os cidadãos em detrimento dos apoios à banca, ao patronato e aos grandes grupos económicos que operam em Portugal. Cada sector da economia e da sociedade portuguesa está a tentar fazer-se ouvir. Na rua, em congressos, em manifestos, em reivindicações mais ou menos claras na tentativa de exercer alguma pressão e chamar a atenção para "a situação do sector" dos trabalhadores e afins. Cada classe profissional está expectante para saber as primeiras medidas que os novos ministros (17! e 41 secretários de estado. Começam bem! :s) vão propor.

De facto, a expectativa é grande.
Porém, manda a prudência que se moderem as expectativas para que o previsível tombo que pode estar escondido numa qualquer curva do caminho, não gele a esperança e não torne (quase) insuportável  a pouco menos miserável existência do trabalhador português. Pobre, cansado, esmifrado pela máquina fiscal e saturado de promessas e de novas esperanças e janelas de oportunidade que tardam a trazer-lhe algo que ele de facto precisa, quer, é útil, necessário e lhe facilita a vida. A cada post que vejo nas redes sociais de apoio às medidas que o Parlamento tem feito aprovar por força da maioria de esquerda existente, tremo de ansiedade.

Porque o  estado de graça e a Graça deste Estado, estão ameaçados pelas fragilidades políticas da coligação parlamentar de esquerda, pela múmia, esse pobre diabo todo poderoso que vagueia pelo Palácio de Belém, pela ala de direita do Partido Socialista, pela Comissão Europeia, as agências de rating (esses agiotas!) e pelos poderes instituídos em Portugal que actuam na sombra, nos corredores do poder, organizados em grupos de pressão e lobbies.

Não quero ser o Velho do Restelo. Mas também não quero ser o adepto que quando vai para o jogo prevê goleadas das antigas mas que volta para casa triste, de ar cabisbaixo porque a sua equipa foi cilindrada pelo adversário. Portanto, expectativas no mínimo. Assim, tudo de positivo que vier   tornar-se-á surpreendentemente bom!

E. entregou uma pizza #à centrão bipolar; #à insanáveis convergências

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