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Até há bem pouco tempo, o PCP era elogiado unanimemente
pelos partidos e comentadores de direita como um partido responsável, que
canalizava o voto de protesto, mas que não levantava grandes ondas no panorama
social português, não sendo portanto um partido “radical”. A partir do momento
em que a hipótese do PCP integrar um governo de coligação de esquerda se tornou
credível, a opinião política mudou. Choveram referências históricas ao
marxismo-leninismo, ao radicalismo da esquerda portuguesa, ao PREC, e ao 25 de
Novembro, data emblemática (do ponto de vista da direita portuguesa, e do PS)
da tentativa de tomada de poder pelas forças radicais de esquerda, faz hoje 40
anos. Nestes dias conturbados, em que a arma do medo volta a ser empunhada com
veemência por variados actores políticos, convém esclarecera natureza do 25 de
Novembro e o papel desempenhado pelo PCP. Não tenho idade para ter vivido o 25
de Novembro de 1975, e não sou especialista da matéria. No entanto, apesar do
distanciamento histórico ainda não ser suficiente, vários especialistas
estudaram esse momento. Analisemos então a verdade histórica.
1. O PCP era, à época, um partido internacionalista, sob a capa
protectora e orientação política da URSS.
2. No contexto internacional de guerra fria, era completamente
impossível a instauração de um regime comunista em plena Europa Ocidental; os
EUA nunca o permitiriam, sabendo-se inclusive hoje que existiam planos de
invasão do nosso território se isso viesse a acontecer. A URSS sabia-o, e a
cúpula do PCP também.
3. Durante o PREC, o PCP clamou sempre pela defesa da jovem
democracia portuguesa, e contra a instauração de qualquer nova ditadura, de
direita ou de esquerda.
4. Existia uma facção das Forças Armadas e uma corrente
política mais radical do que o PCP, corporizada em diferentes pequenos
partidos, que defendiam um rumo mais radical, do estilo “é agora ou nunca”. A
extrema-esquerda sempre foi um problema para o PCP.
5. O PCP sempre receou um golpe contra-revolucionário,
possivelmente em resposta a um levantamento militare de esquerda, que
aniquilasse a esquerda política e militar portuguesa.
6. Hoje sabe-se que o PCP fez um acordo pré-25 de Novembro com
o chamado Grupo dos Nove, no sentido de assegurar o seu não apoio a acções
radicais da esquerda militar, sendo que há testemunhos que terá havido um
encontro entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes nas vésperas do 25 de Novembro.
7. A 25 de Novembro, dá-se um levantamento militar de tropas
pára-quedistas, em reacção a uma série de medidas impostas sobre a unidade, e,
em resposta, uma força militar chefiada por Ramalho Eanes põe fim ao que seria
o início de um golpe revolucionário.
8. Durante o dia de 25 de Novembro, o PCP mantém-se à parte das
movimentações, não apoiando a saída de forças militares próximas do partido, e
recusando a distribuição de armas a centenas de militantes que, junto das sedes
do PCP e das unidades militares, as pediam.
9. No dia 26 de Novembro, Melo Antunes vai à televisão dizer
que o PCP é fundamental para a construção da democracia portuguesa e, contra a
opinião do PS e da direita portuguesa, rejeita a ilegalização do partido
comunista.
Moral da história: no final do “Verão Quente”, no auge do
PREC, o PCP rejeitou a via revolucionária, não apoiando quaisquer acções
militares para a tomada do poder, e optando pela integração no regime
democrático. Sendo assim, hoje, 25 de Novembro de 2015, os portugueses poderão
dormir descansados; o governo que tomará posse em breve é apenas um governo do
PS com apoio parlamentar das forças políticas à sua esquerda. Inédito? Sim.
Revolucionário? Não.
R. entregou uma pizza #à ódios de estimação
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