segunda-feira, 27 de junho de 2016

Euro 2016 - Notas soltas...

Portugal - Bola e praia. Viva!
Queremos saber de transmissões em directo de emigrantes a gastar do seu tempo de folga para ficar a olhar para o hotel onde está alojada a selecção. As transmissões em directo da saída do autocarro para o aeroporto que têm o poder de interromper programas/notícias/debates sobre o brexit, a CGD ou qualquer outro tema muito mais importante mas muito menos destacado e apelativo.
Entretanto a Geringonça vai funcionando para espanto (e mal) de uns quantos, a CGD está prestes a dar o peido-mestre, o Paulinho das Feiras foi para a Mota Engil, essa conhecida ONG, a Comissão Europeia tenta decidir se nos encava mais um bocadinho ou não, o Marcelo continua no seu ritmo coelhinho Duracell e a malta quer é... Futebol! Tanto que a bandeira das quinas e A Portuguesa são mais símbolos de uma selecção do que de um país... Triste!
Ó malta... e se usássemos uma décima parte da dedicação para levarmos o país para a frente? (não, não estou a falar da equipa para o ataque!!!)

Espanha - PoPodemos (não, não é gralha...)
Nuestros hermanos foram às urnas (outra vez) e a coisa está entalada. Afinal o Unidos Podemos não foi tão longe (parece-me que o Iglesias está a pagar algum atrevimento e uns tiques), o PSOE não caiu tanto, o PP até subiu e os Ciudadanos começaram a perder gás... A Comissão Europeia deve ter ficado relativamente satisfeita... Se aquele gajo do rabo de cavalo ganha ia ser uma treta (e choviam sanções na Península Ibérica).
Ahhhh! E a Bella Itália mandou os bicampeões da Europa para casa.

França - Je suis François
O François não sabe para onde se virar... Ele é o Euro (com os nervos em franja por causa da segurança), ele é o €uro (por causa do Brexit), ele é o Brexit, ele é, enfim, a Marine! A Marine que parece muito mais ele do que o próprio François! Ele é/está amorfo. Ela está cada vez mais empertigada. Nem consegue disfarçar o sorriso que se forma pelo gozo que deve sentir pelo andar da carruagem, tanto em França como no resto da velha Europa.
E pelo meio lá conseguiram desenvencilhar-se dos tipos porreiros que são os O'Irish! Que pena!

Reino (des)Unido - BiBrexit!
A desinformação é uma arma poderosa, não é? O medo instigado nos old chaps da Albion foi capaz de fazer subir intenção de voto no Brexit até à vitória. O medo dos malditos estrangeiros foi mais forte do que o medo de sair da UE e assim aconteceu a saída de um país que, verdade seja dita, nunca esteve inteiramente dentro da União Europeia. Agora temos uma fatia da população jovem revoltada pelo votos dos mais velhos, temos a população estrangeira assustada com o futuro, temos a malta dos kilts a ameaçar bater com a porta.
Pelo meio o Will Grigg não esteve on fire no Euro e o Ulster e a Inglaterra fizeram um Brexit 2. Resta Gales para tentar manter a honra do convento.

Alemanha - Alles ist gut
Zee germans (ver Snatch, Porcos e Diamantes) estão mais sozinhos no comando da UE. Na verdade sempre estiveram mas agora, sem a sombra dos brits e com o molengas do François estão mais na mó de cima do que nunca. Ditam as regras no Euro e no €uro. E na Europa da economia e da política as coisas são como na Europa do futebol. São onze contra onze (mais coisa menos coisa) e no fim ganha a Alemanha!

Bélgica - Um xixi em cima da xenofobia
O país ainda não se refez dos atentados no aeroporto e no metro, das buscas no bairro de Molenbeek, de todas as ameaças e medos. A Bélgica, esse país que há uns tempos atrás nos mostrou que é possível funcionar sem governo, dá agora uma lição de integração através da sua selecção de futebol. Da última vez que eu vi a Bélgica era composta por uma parte flamenga e outra francófona. Mas a selecção tem descendentes de magrebinos, espanhóis, congoleses, indonésios, malianos, portugueses e quenianos, isto se não contarmos seleccionáveis que por uma ou outra razão não foram à França.
E que melhor forma de eliminar a Hungria, com os seus adeptos fascistas (ou marxistas, como provavelmente JRdosS lhes chamaria) do que às mãos (ou pés) desta multicultural Bélgica? Justiça divina! 
Fica aqui uma palavra para outra multicultural selecção... os neutros, indeterminados, abstidos... a selecção da... Suíça! Ups! Da Albânia 2!

Turquia - De certeza que querem fazer parte disto?
Os cada vez mais nacionalistas turcos estão a deixar-se levar por um Erdogan com a mania das grandezas. Erdogan tem o dom de pegar no estado laico de população maioritariamente muçulmana criado e construído de forma sustentada por Ataturk e levá-lo perigosamente por caminhos cada vez mais obscuros ligados ao conservadorismo religioso. Do meu ponto de vista a Turquia podia ser a porta que ligaria o mundo ocidental ao mundo do Médio Oriente. A Turquia podia ser um farol. E não é que o sacana do Erdogan põe-se a atirar pedras à luz do farol? E ainda convence o bom do povo turco que se anda melhor às escuras?
Embora o acordo secreto com a UE pareça ser mais uma aproximação da Turquia à Europa, aos meus olhos os que os turcos querem é manter a distância. Tanta que já saíram do Euro. Pela porta pequena.

Rússia - Arrussieiros
Chegaram cedo à França e cedo partiram. E partiram tudo! Cadeiras, copos, cabeças inglesas... A Rússia esteve no Europeu sem glória nem honra. E os seus adeptos (uma minoria...) sublinharam a postura da sua selecção. E, pasme-se (na verdade não...) os líderes russos, com Vladimir Putin à cabeça, passaram um pano nas acções dos seus vândalos e a mão na cabeça dos mesmos. Mas a quem surpreende esta postura do Todo Poderoso? A mim não... O senhor Putin é talvez o rosto mais visível da onda nacionalista que se espalha pelo Velho Continente. 

Islândia - Os vikings estão de volta!
Melhor do que os irlandeses (da República ou do Norte) só mesmo os islandeses!
A população desta ilha agreste e escassamente povoada mostra-nos a nós continentais (não, não estou a falar da Madeira) como se governa uma nação. O que não está bem muda-se. O que está errado corrige-se. O que é nosso somos nós que governamos. Tomamos o nosso destino nas nossas mãos. E tão verdade é esta postura do povo islandês que o mesmo se reflecte na postura dos seus bravos em campo. Veja-se como a provavelmente mais fraca selecção do torneio segue determinada e inspiradora no seu caminho de glória.

J. entregou uma pizza #politicamente irrelevante, #à coçador

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Futebol e coiso e tal

tsf.pt
Sou homem, sou português, e gosto de futebol. Mais de vê-lo do que praticá-lo, diga-se em abono da verdade. A um dia do início de mais um Campeonato Europeu de futebol, como tantos portugueses, desejo ver alguns bons jogos e, quem sabe, vibrar com um brilharete da Selecção Nacional. Acho isto perfeitamente aceitável e normal. Mas encaro como algo completamente diferente a dimensão que o futebol tem na vida das pessoas, quer a nível pessoal, quer a nível institucional. Que as instituições políticas e sociais, assim como a comunicação social, explorem o filão do futebol até ao tutano é certamente compreensível, embora raiando o insuportável, pois estas só procuram agradar às pessoas, dizendo e mostrando aquilo que a maioria quer ver. Sendo assim, tudo se resume ao nível pessoal. 
Compreendo perfeitamente quem tem uma paixão pelo futebol. Não vou pelo discurso “são só onze gajos de cada lado atrás de uma bola a tentar metê-la numa baliza” pois as descrições literais revelam quase sempre muito pouco daquilo que nos atrai nas coisas. Por exemplo, uma outra paixão masculina deveras conhecida poderia ser descrita como “a parte do corpo feminino, constituída essencialmente por tecido adiposo, responsável pela produção de leite após o parto”. É esquisito, mas é a realidade; nós gostamos de coisas banais.
Mas uma coisa é ter o futebol como paixão. Outra, é o futebol ser a única paixão de uma pessoa. Ser o único aspecto da vida que faz a pessoa rir, chorar, exaltar-se, enfim, sentir-se viva. Olhemos para o comum dos portugueses. Esqueçam a família, nem nos lembrem a política, muito menos a literatura, as artes, a ciência, e o conhecimento em geral. A única coisa que faz vibrar realmente um português é o futebol. Esse comportamento básico e acéfalo é totalmente inaceitável.
Nos meus tempos de adolescente, passei por uma fase em que era um adepto ferrenho, quase fanático, do clube mais representativo da minha cidade natal. Quando esse clube perdia, principalmente quando assistia ao vivo ao desaire, parecia que o meu mundo acabava, e aquilo afectava-me profundamente. Por outro lado, sentia uma alegria imensa ao ir assistir a um jogo, e comungar do sentimento de pertença a uma comunidade, partilhar das alegrias com os outros, gritar ‘golo’ ao mesmo tempo que cem mil outras pessoas. Hoje já não o sinto da mesma forma determinante para a minha felicidade. Porquê? Pela mesma razão de que já não como terra do chão, não faço xixi na cama e não choro quando tenho sono; simplesmente cresci.
Os valores que me guiam, os anseios e receios que me impulsionam, os princípios que balizam a minha vida passaram a ser outros. Transcendi aquilo que se passa dentro de quatro linhas de um qualquer relvado, num qualquer estádio, num qualquer fim-de-semana. E é isto que uma pessoa adulta deveria fazer. Sublinho, adulta. Por isso, para quem se chateia com os seus amigos por causa de futebol, quem bate na mulher por causa das derrotas do seu clube, quem espera pela chegada da equipa às tantas da madrugada ao aeroporto, quem chora um penálti falhado, quem comete qualquer tipo de violência num estádio de futebol, quem insulta indiscriminadamente os adeptos do clube adversário, quem faz discursos inflamados sobre o que é ser do seu clube desde pequenino, só tenho uma palavra: cresçam! E, quando um dia conseguirmos ser todos adultos, talvez o mundo se transforme num lugar melhor. Com lugar para o futebol, mas com espaço para muito mais do que isso.
R. entregou uma pizza #à coçador
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