Desde quarta-feira de manhã,
depois de saber os resultados das eleições presidenciais norte-americanas, que
busco algum sentido para o que se passou (desde a falha das sondagens – que
começa a ser mais uma regra do que uma exceção – ao epicentro deste sismo),
tento ver as reações que se multiplicam e procuro as opiniões que projetam as
visões pessoais do que aí vem.
Tenho lido artigos, visto vídeos,
acompanhado as notícias. E, pelos vistos, terei errado nas fontes que
pesquisei. Comecemos pelo que pode estar na origem da eleição de Trump e do tal
erro que cometi.
De acordo com
este
artigo uma das explicações para o que se passou nos EUA, assim como no
Reino Unido com o Brexit, assim como se passa na Turquia, assim como se poderá
passar no próximo ano na França, assim como se passa um pouco por todo o mundo,
é que as pessoas se encerram nos ciclos em que encaixam (vejam o exemplo das
redes sociais: de uma forma geral as pessoas a quem estamos ligados são pessoas
com quem temos afinidades). E não só nos encerramos nesses círculos como
buscamos a informação nos meios, nas páginas, nos sítios que nós consideramos
fidedignos e que, de alguma forma, refletem aquilo que nós achamos correto.
Aparentemente esta é uma das
razões pelas quais meio mundo (ou mais) ficou atónito com o que se passou no
passado dia 8 de novembro. Quem não esperava que o boçal do Trump ganhasse
estava seguro disso mesmo porque na sua lógica tal não poderia acontecer e os
media e as redes sociais acompanhados/consultados asseguravam esse raciocínio.
Estávamos (e estamos) fechados nos nossos mundos e esquecemo-nos que há quem
tenha uma perspetiva contrária, quem discorde, que se oponha.
E eis que nos enganamos!
E as sondagens? Essas também se
enganaram e talvez tenham sido causa e efeito do seu próprio erro. Quem nos
garante a objetividade dos estudos de sondagens? Que garantia temos de que as
pessoas que respondem correspondem às que votam? E que garantia temos de que
dão as respostas verdadeiras? Aparentemente não temos garantias nesses campos e
os exemplos da falibilidade das sondagens acumulam-se (e ainda por cima em
casos de dimensão internacional).
Michael Moore, o realizador de
Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11 ou, claro, Michael Moore in Trumpland,
foi um dos que previu a vitória de Trump. Um dos humanos. Além dele também os
criadores dos The Simpsons previram de alguma forma a vitória e com anos de
antecedência. Num dos
episódios
de 2000, Lisa, já adulta, sucede a Trump na presidência de uns EUA falidos!
Mas voltemos a Michael Moore. No
seu site o realizador americano apresenta um
texto de opinião em que
fundamenta a sua predição com cinco pontos que se vieram a revelar corretos.
Moore fala sobre:
1. a
aposta de Trump no Rust Belt. Ohio, Michigan, Pennsylvania e Wisconsin, estados
tradicionalmente mais azuis (todos penderam para Obama em 2012) seriam forte
aposta de Trump, na procura de conquistar os insatisfeitos trabalhadores da
faixa industrial. E que o magnata conquistou os quatro estados!
2. o
grito do Ipiranga dado pelo Homem Branco de Meia Idade e Colarinho Azul,
Formação Reduzida e Religiosidade Acentuada.
3. a
falta de popularidade de Hillary. Uma personagem pouco cativante, com o nome
manchado pela história explorada até à exaustão dos e-mails e oriunda do mundo
da política (aquilo que poderia passar por um trunfo era, afinal, um calcanhar
de Aquiles).
4. os
democratas desanimados Pro-Sanders. Uma parte destes não teve estômago para ir
votar em Hillary. Outros resolveram votar em Jill Stein. E os que foram votar
em Hillary não tiveram a capacidade de contagiar e arrebanhar outros eleitores.
5. o
curioso efeito a que chamou Jesse Ventura Effect (em referência à eleição, há
uns anos atrás, de um wrestler para Governador do Minnesota). Este efeito
refere-se àquela atração pelo abismo que às vezes sentimos quando estamos na
beirinha de um penhasco. Vamos lá a admitir (eu pelos faço-o)… uma parte mais
negra de nós não deixou de sentir alguma curiosidade quanto à possibilidade de
ver o pateta do Trump no poder. O que acontece é que algumas pessoas resistem a
essa curiosidade. E outras não!
E assim, sem estarmos preparados
para tal, temos um Trump presidente!
E agora? Bem… o futuro parece
assustador, não é?
Trump já nos mostrou a sua fraca
capacidade de encaixe, o seu ego inchado, a sua impreparação. Durante a
campanha das primárias foi… bem… primário. Na campanha das presidenciais
pareceu tentar controlar-se mas sem, contudo, deixar de dizer alarvidades. E o mínimo
aperto ou confrontação levou-o a descontrolar-se, irascível e infantil ao mesmo
tempo.
No discurso de tomada de posse
teve a postura mais branda que lhe vi até então. E no momento em que foi
recebido na Casa Branca por um Barack Obama ao mesmo tempo polido e atónito
comportou-se como seria espectável naquelas circunstâncias e com aquelas personagens.
Mas bastaram as primeiras (quanto a mim inconsequentes e em breve terminadas)
manifestações
de desagrado para o homem dar ao dedo no Twitter! Não pode ser Senhor
Presidente dos Estados Unidos da América!
Donald Trump é um homem
imprevisível que agora ocupa um lugar que não permite tal traço de
personalidade. E vai ter, seguramente, um partido, um Congresso e um Senado
que, apesar da sua cor, lhe toldarão e moldarão alguns passos. Mas aí Trump
corre o risco de não corresponder ao seu eleitorado, o que será, a meu ver, um
tópico muito delicado de gerir. Como reagirá a massa que elegeu Trump com
vontade de dar uma abanadela ao sistema quando perceber que afinal será mais do
mesmo?
A entourage formada em redor de
Trump consegue ser tão ou mais assustadora que o próprio. Nomes como Sessions,
Palin, Priebus, Gingrich, Christie, Juliani e, claro, Pence, não auguram nada
de bom e por isso, em parte vamos ter de confiar no próprio Partido Republicano
para controlar os seus! Pode acabar por acontecer que o partido se… parta e
estas eleições sejam a pior coisa que já aconteceu ao GOP e a melhor (depois de
uma lavagem que deve seguir-se a estas eleições) que se passou com o Partido
Democrata (quem sabe se
Sanders
volta em 2020!)!
Pelo mundo fora a expectativa acumula-se
e a incerteza também. Desde
perspetivas
que apontam no sentido de os EUA podem ter visto a democracia morrer por ser
precisamente demasiado democrática, até àquelas que preveem que a vaga iniciada
com o Brexit e consolidada com Trump se alargue à Europa tendo como potenciais
consequências conflitos armados nucleares.
A verdade é que os próximos
tempos e em particular
os
primeiros 100 dias da governação de Trump deverão esclarecer-nos sobre o
que aí vem, sobre o que se passará nos EUA, sobre a dimensão das ondas que se
vão propagar pelo mundo inteiro.
No entretanto, e para acabar onde
comecei, volto ao artigo que recorda os ciclos da história para concordar com a
opinião do autor. Se calhar está na hora de estabelecer ligações entre as
redomas e não de as tornas mais espessas e opacas. Para bem de todos.
J. entregou uma pizza #à coçador