O que aconteceu em Paris, a 13 Novembro de 2015, é
deplorável e hediondo. Há a lamentar dezenas de vítimas inocentes. Todos nós as
lamentamos. Disso não restam dúvidas. As redes sociais inundaram-se de sinais
de consternação, pesar e apoio. Neste mesmo mundo, quantos de nós lamentamos as
vítimas inocentes que os rebeldes sírios (apoiados pelos países europeus e EUA)
fizeram na Síria? Quantos de nós lamentamos as centenas de vítimas que a NATO
(o exército dos países europeus e norte-americanos) fez na Líbia, no Iraque, no
Afeganistão, no Mali e na Somália? Será que os países europeus alguma vez
pensaram que podiam levar a guerra para o resto do mundo e que isso nunca iria
regressar? Uma guerra é um confronto directo entre dois ou mais grupos
distintos, utilizando-se armas para tentar derrotar o adversário. Uma guerra
tem sempre dois lados, os dois atacam, os dois defendem. Quem faz a guerra sabe
que, quando envia exércitos para atacar um determinado grupo ou país, esse vai
retaliar. É a guerra. Será que os países de Europa não sabiam? Sabiam, claro
que sabiam.
Mas a guerra hoje não é feita apenas com exércitos formais.
A guerra não se restringe à disputa entre países. Há cada vez mais forças e
poderes transnacionais e é aqui que entra o terrorismo. Os estados deixaram de
dar resposta a uma grande fatia da população mundial e a segregação social
levou à criação de grupos justiceiros que crescem um pouco por todo o mundo.
Crescem na Europa, nos EUA, no Médio Oriente, na Ásia ou na Oceânia. Os
excluídos de um sistema estadual são cada vez mais. A França, o Reino Unido, a
Alemanha, os EUA, a Rússia, alimentam em jovens o exército do Estado Islâmico
do Iraque e do Levante (EIIL). Segundo a ONU, há mais de 15 mil estrangeiros a
combater nas fileiras do EIIL, provenientes de mais de 80 países. Os europeus
estão na linha da frente com a França e a Bélgica a liderar o número de pessoas
que se junta a este grupo.
No dia em que a UE recebeu o Prémio Nobel da Paz todos
perceberam que o prémio era mal atribuído. Porquê? Porque a UE
arrastava centenas de jovens muçulmanos, cristãos e ateus para a
marginalização, cada vez são menos instruídos, educados e afastados da
possibilidade de garantir um futuro melhor. Os subúrbios das cidades europeias
estão a transformar-se em guetos sociais e raciais, onde se concentram cada vez
mais jovens a quem os sistemas de educação não dão resposta. O desinvestimento
na escola pública e a criação de cursos destinados a alunos excluídos afastou o
ideal da igualdade na Europa. Jovens arrastados para a marginalização, para o
desespero, desprovidos de valores morais tornam-se vítimas fáceis. A Europa não
importou dos EUA apenas um modelo económico, com este veio também um modelo
social e é a isso que a Europa assiste na actualidade. Esta segregação social,
económica e racial ajuda a promover o fundamentalismo. Estes jovens são vítimas
fáceis, não têm nada a perder, andam à deriva, têm famílias disfuncionais onde
predomina o desemprego de longa duração. São estes jovens que partem para se alistar
no EIIL. Infelizmente, o que aconteceu em Paris é o resultado de algo muito
mais complexo do que um simples "foi o Estado Islâmico" e
infelizmente, há a lamentar milhares de vítimas inocentes espalhadas pelo
mundo, franceses, sírios, espanhóis, afegãos, ingleses, iraquianos, somalis…
Há, no entanto, que fazer muito mais do que espalhar o medo.
Felizmente, o Islão não é o
Estado Islâmico. Fundamentalistas há-os em todos os cantos, quer no Islão, quer
em Israel, quer na Europa. Mas será sobre a comunidade islâmica que o mundo irá
exercer a suas frustrações, os seus devaneios e, principalmente, o seu medo.
Sim, porque o terrorismo vive do medo e o medo é uma arma poderosa. Podemos e
devemos ter medo, mas não podemos deixar que o medo molde os nossos julgamentos.
O EIIL é um grupo fundamentalista islâmico que aterroriza o Médio Oriente. É
deles que fogem os refugiados que correm aos milhares para a Europa. É contra
eles que a população com medo ergue a sua voz. O medo leva a que os europeus
tenham medo daqueles que fogem do medo. É estranho. Vivemos num mundo complexo
e a humanidade parece escapar-se entre os dedos das mãos da população, como se
de areia fina se tratasse. Marine Le Pen pode ter ganho as eleições francesas
na noite de 13 de Novembro e isso é uma vitória do medo sobre a
humanidade.
C. entrega uma pizza #à são todos pretos e #à politicamente irrelevante
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