sábado, 14 de novembro de 2015

O ocidente humanista… o oximoro perfeito

Acho que já foi tudo dito… a perplexidade perante a barbárie, a condenação veemente ao fanatismo religioso, a tristeza perante a frieza das mortes, a repulsa que a execução sumária de gente comum a todos nos traz…mas perdoem-me a insensibilidade de dizer que de discursos de Miss Universo a endossar votos de paz e amor no mundo já estou farto. Todos o queremos, com mais ou menos atributos físicos dignos de concursos de beleza, todos queremos um mundo melhor, mais justo e igualitário. Vá lá… Quantos de nós não mudámos de canal quando no bloco de notícias internacionais, bem lá para o final de um qualquer telejornal diário, num qualquer canal televisivo, se noticiava mais um ataque suicida na Faixa de Gaza, ou no Iémen, ou num qualquer outro canto do mundo lá para oriente. Era tempo de ir à cozinha buscar qualquer coisa para comer…mais uns quantos que morriam, lá na terra daqueles que nunca se entendem e resolvem tudo com bombas. Insensibilizámo-nos do sangue e dos gritos de dor… era lá longe. Mas aqui, dentro de portas, não… aqui impressionamo-nos. A proximidade geográfica e cultural, talvez até religiosa, exacerba a nossa indignação? Compreendo, mas não nos pode cegar. Terror e morte, há infelizmente em todo o lado, a toda a hora e em quase todas as latitudes. Que raio de indignação é esta que só se manifesta quando ouvimos aqui ao nosso lado os tiros. Que porra de repúdio é este que só é propalado  aos sete ventos quando são as nossas paredes que ficam cobertas de sangue? Vá lá…. Não sejamos Miss Universo, discursando em lágrimas em nome de um mundo melhor. Nada tenho contra elas e os seus discursos. Mas dói-me a alma esta forma, às vezes quase inocente, quase inata- nascemos no lado certo do mundo- de sermos ocidentalmente superiores. Somos os culturalmente elevados, os pais da tolerância e da igualdade, os criadores assumidos da solidariedade… Tão longe dos bárbaros e fundamentalistas tacanhos que vindos do andar de baixo do desenvolvimento, algures de África ou do Próximo Oriente se matam uns aos outros, ou que cometem a audácia de em insufláveis e pequenas barcaças entre nós procurarem refúgio… Sejamos Charlie, ou pintemos os nossos murais com a tricolor francesa mas, é também nossa obrigação não mudar de canal quando lá longe morrerem inocentes, informarmo-nos porque morrem, porque se matam, porque nos insultam e nos odeiam… Inquietemo-nos com as invasões, acções armadas ou apoio logístico que os nossos iluminados líderes decidem levar a cabo nesse andar de baixo. Quanto desse sangue que lá tão longe se derrama vem impresso nos nossos boletins de voto?? 


Manifestemos a perplexidade e a indignação hoje. Mas em nome dos valores humanistas que nos envaidecem, manifestemos sempre…


 A. entrega uma pizza  #à são todos pretos

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