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Faz hoje 100 anos que Albert Einstein entregou, na Academia
de Ciências de Berlim, a sua versão final da Teoria da Relatividade Geral.
Nela, apresentava equações matemáticas que relacionavam a gravidade com a
geometria do espaço e do tempo. Tempo e espaço deixaram de ser entidades
absolutas, meros espectadores da realidade física; a matéria molda a estrutura
geométrica do espaço-tempo, e esta determina o movimento da matéria. Juntamente
com a mecânica quântica, desenvolvida nos anos 20 do século passado, a Relatividade
Geral constitui um dos pilares da Física moderna, mudando para sempre a nossa
visão do universo. Com base nas suas equações, Einstein pôde fazer uma
descrição muito mais rigorosa do movimento de corpos celestes e de raios de luz
sujeitos à interacção gravítica, prevendo o desvio da luz perto de grandes
massas. Além disso, também previu a existência de ondas gravitacionais,
semelhantes a ondas electromagnéticas (como a luz visível), mas extremamente
fracas e difíceis de detectar, o que pode explicar ainda não terem sido
observadas.
Mas, como todas as grandes teorias físicas, a obra
ultrapassou o seu criador. As equações apresentadas a 25 de Novembro de 1915
continham revelações que nem Einstein conseguiu, ou teve coragem, de
reconhecer. Uma delas foi a que levou à maior descoberta científica do século
passado, a expansão do universo, transformando o universo de algo eterno e
imutável, para um sistema que teve um início, que evolui e que, provavelmente,
terá um fim. As equações de Einstein provavam-no; Einstein não acreditou e
modificou as suas próprias equações de modo que resultasse um universo
estático. Poucos anos depois, o astrónomo Edwin Hubble viria a provar o
contrário. Outra revelação foi a previsão da existência de corpos celestes com
uma gravidade tão intensa que nem a luz lhes pode escapar, os chamados buracos
negros. Einstein nunca acreditou neles, mas hoje há fortes indícios
experimentais da sua existência, e a teoria desenvolvida a partir dos anos 60
do século passado descreve, com um grau de consistência interna notável, as
condições, mecanismos e resultado final do colapso gravitacional de uma
estrela, do qual pode resultar um buraco negro.
No entanto, todas as teorias físicas têm um âmbito de
aplicação limitado, e a teoria da Relatividade Geral não é excepção. Por exemplo,
sabe-se que ela tem limitações intrínsecas quando a natureza corpuscular da
matéria se evidencia. Diz-se que é uma teoria clássica, e não uma teoria
quântica. Não quer dizer que esteja errada; apenas quer dizer que o seu campo
de aplicação não é infinito, isto é, existirão fenómenos que ocorrem na
Natureza para os quais a teoria não tem explicação. A Relatividade Geral é
notável no sentido em que a sua própria estrutura interna prevê as condições em
que deixará de ser válida. Em situações de concentrações de massa extremas as
equações de Einstein caiem por terra, indicando que nessas circunstâncias os
modelos existentes actualmente, quer para a geometria do espaço-tempo, quer
para a estrutura da matéria, deixam provavelmente de ser válidos em certas zonas
designadas por ‘singularidades’. É precisamente o estudo destas situações
extremas que nos permite esticar o nosso conhecimento até à sua fronteira
actual e assim ‘espreitar’ um pouco o futuro da física e, consequentemente, da
própria humanidade.
Centenas de anos antes de Einstein, Newton revolucionou a
nossa visão do universo, mas só muito depois da sua morte a humanidade
interiorizou a revolução científica que ele e outros protagonizaram: o
determinismo das leis físicas, o optimismo científico, a posição do Homem e de
Deus no universo. Da mesma forma, a visão einsteiniana do espaço e tempo ainda
não foi assimilada pela esmagadora maioria da população, 100 anos depois da
criação da teoria. Todos nós pensamos instintivamente de forma newtoniana, não
nos dando conta que o espaço e tempo fazem parte da dinâmica do universo e não
têm uma existência independente de nós. O progresso científico é por vezes
lento, mas também pode ser extraordinariamente rápido e revolucionário. É
impossível prever o grau de conhecimento científico quando se comemorar o
bicentenário da teoria da Relatividade Geral, mas uma coisa é certa: a busca
pela compreensão da Natureza continuará tão acesa como hoje, pois essa é uma
das características básicas do ser humano. E, quem sabe, estaremos nessa altura
a comemorar a visão singular de um próximo Einstein.
R. entregou uma pizza # à neutrinos à solta
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