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Há dois tipos de políticos no mundo: o anjinho e o diabinho.
O
político anjinho é aquele que faz um diagnóstico da realidade que vai de
encontro aos anseios do eleitorado, reconhecendo os problemas das sociedades
modernas e do planeta, mas a sua estratégia para resolver os problemas dos
eleitores é implementada através do diálogo, do consenso, e do estrito
cumprimento dos protocolos, tudo com base no funcionamento burocrático das
instituições existentes. Tem boas ideias, boas intenções, e alimenta a esperança do eleitorado. Mas, na prática, esta maneira de agir leva a que,
apesar de bem-intencionado, o político anjinho acaba por não conseguir levar a
sua avante, uma vez que os entraves e obstáculos são demasiado poderosos. Muitas
instituições consideram que é vantajoso ter um anjinho à sua frente, logo o
político anjinho tem por vezes hipóteses de ocupar altas posições na hierarquia
institucional e política mundial. O político anjinho é um homem verdadeiro, está
na política para servir os eleitores o melhor que sabe, mas a verdade é que “de
boas intenções está o inferno cheio”.
O político diabinho faz um diagnóstico oposto ao do anjinho.
Não vê os problemas da mesma forma, tem uma visão egoísta, distante do
eleitorado. Mas é eficaz na transmissão da sua mensagem. Sabe provocar o medo,
sabe alimentar a resignação, e consegue que o eleitorado o veja como um mal
menor, como um porto seguro no meio de uma tempestade. A sua estratégia para ir
vivendo com os problemas dos eleitores é implementada através do diálogo, do
consenso, e do estrito cumprimento dos protocolos, tudo com base no
funcionamento burocrático das instituições existentes. Ora esta maneira de agir
leva a que o político diabinho acaba por conseguir levar a sua avante, uma vez
que os entraves e obstáculos são a desculpa perfeita à manutenção do status
quo. A grande maioria das instituições financeiras e políticas prefere ter
um diabinho à sua frente, logo o político diabinho está destinado a ocupar altas
posições na hierarquia financeira e política mundial. O político diabinho é um
homem falso, e está na política para se servir a si e aqueles para quem trabalha.
António Guterres e Durão Barroso são os mais altos
representantes nacionais destes dois tipos de políticos, e isso esteve bem
patente no debate que os juntou na RTP, no passado dia 22 de Fevereiro. Durante
os últimos 10 anos, o primeiro foi Alto Comissário das Nações Unidas para os
Refugiados, e o segundo foi Presidente da Comissão Europeia, ambas posições
cimeiras no palco mundial. O primeiro irá apresentar a sua candidatura a
Secretário-Geral da ONU; o segundo profere palestras em todo o mundo e é
professor convidado em Política Internacional na Universidade de Princeton, nos
EUA. Para o eleitor e cidadão comum, assistir a este debate é uma lição sobre o
discurso do político anjinho e do político diabinho. Quanto aos resultados efectivos
das suas políticas, basta pensar na situação actual da União Europeia e das
migrações de refugiados.
Tal como as figuras míticas que nos sussurram ao ouvido,
aconselhando-nos a agir de acordo com o que eles consideram ser correcto, os
políticos anjinho e diabinho também vão conversando com o eleitorado,
defendendo a sua posição, dispostos a dizer o que for necessário para convencer
o eleitorado da sua visão do mundo, mas no final acaba por ficar tudo na mesma, ou pior.
Com isto em mente, não admira que os regimes democráticos estejam em crise, com
um afastamento cada vez maior do eleitorado em relação aos seus representantes
eleitos. Para esta situação se alterar, precisam-se políticos que sejam, por
assim dizer, anjinhos nas intenções, mas diabinhos na acção. Políticos que
consigam equilibrar-se na corda bamba, que saibam manter claros os objectivos
na sua mente, mas que reconheçam e contornem os obstáculos. Políticos que
saibam quem são os seus inimigos e os seus amigos. Políticos que não se deixem
vencer pela realidade, nem que se aliem a ela. Políticos que sejam capazes de
construir um novo mundo. Sem isso, a Democracia como a conhecemos está condenada.
R. entregou uma pizza #à anon & mato
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