quarta-feira, 2 de março de 2016

O político anjinho e o político diabinho

Quadrinhos da Turma da Mônica
Há dois tipos de políticos no mundo: o anjinho e o diabinho. 
O político anjinho é aquele que faz um diagnóstico da realidade que vai de encontro aos anseios do eleitorado, reconhecendo os problemas das sociedades modernas e do planeta, mas a sua estratégia para resolver os problemas dos eleitores é implementada através do diálogo, do consenso, e do estrito cumprimento dos protocolos, tudo com base no funcionamento burocrático das instituições existentes. Tem boas ideias, boas intenções, e alimenta a esperança do eleitorado. Mas, na prática, esta maneira de agir leva a que, apesar de bem-intencionado, o político anjinho acaba por não conseguir levar a sua avante, uma vez que os entraves e obstáculos são demasiado poderosos. Muitas instituições consideram que é vantajoso ter um anjinho à sua frente, logo o político anjinho tem por vezes hipóteses de ocupar altas posições na hierarquia institucional e política mundial. O político anjinho é um homem verdadeiro, está na política para servir os eleitores o melhor que sabe, mas a verdade é que “de boas intenções está o inferno cheio”.
O político diabinho faz um diagnóstico oposto ao do anjinho. Não vê os problemas da mesma forma, tem uma visão egoísta, distante do eleitorado. Mas é eficaz na transmissão da sua mensagem. Sabe provocar o medo, sabe alimentar a resignação, e consegue que o eleitorado o veja como um mal menor, como um porto seguro no meio de uma tempestade. A sua estratégia para ir vivendo com os problemas dos eleitores é implementada através do diálogo, do consenso, e do estrito cumprimento dos protocolos, tudo com base no funcionamento burocrático das instituições existentes. Ora esta maneira de agir leva a que o político diabinho acaba por conseguir levar a sua avante, uma vez que os entraves e obstáculos são a desculpa perfeita à manutenção do status quo. A grande maioria das instituições financeiras e políticas prefere ter um diabinho à sua frente, logo o político diabinho está destinado a ocupar altas posições na hierarquia financeira e política mundial. O político diabinho é um homem falso, e está na política para se servir a si e aqueles para quem trabalha.
António Guterres e Durão Barroso são os mais altos representantes nacionais destes dois tipos de políticos, e isso esteve bem patente no debate que os juntou na RTP, no passado dia 22 de Fevereiro. Durante os últimos 10 anos, o primeiro foi Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, e o segundo foi Presidente da Comissão Europeia, ambas posições cimeiras no palco mundial. O primeiro irá apresentar a sua candidatura a Secretário-Geral da ONU; o segundo profere palestras em todo o mundo e é professor convidado em Política Internacional na Universidade de Princeton, nos EUA. Para o eleitor e cidadão comum, assistir a este debate é uma lição sobre o discurso do político anjinho e do político diabinho. Quanto aos resultados efectivos das suas políticas, basta pensar na situação actual da União Europeia e das migrações de refugiados. 
Tal como as figuras míticas que nos sussurram ao ouvido, aconselhando-nos a agir de acordo com o que eles consideram ser correcto, os políticos anjinho e diabinho também vão conversando com o eleitorado, defendendo a sua posição, dispostos a dizer o que for necessário para convencer o eleitorado da sua visão do mundo, mas no final acaba por ficar tudo na mesma, ou pior. Com isto em mente, não admira que os regimes democráticos estejam em crise, com um afastamento cada vez maior do eleitorado em relação aos seus representantes eleitos. Para esta situação se alterar, precisam-se políticos que sejam, por assim dizer, anjinhos nas intenções, mas diabinhos na acção. Políticos que consigam equilibrar-se na corda bamba, que saibam manter claros os objectivos na sua mente, mas que reconheçam e contornem os obstáculos. Políticos que saibam quem são os seus inimigos e os seus amigos. Políticos que não se deixem vencer pela realidade, nem que se aliem a ela. Políticos que sejam capazes de construir um novo mundo. Sem isso, a Democracia como a conhecemos está condenada. 

R. entregou uma pizza #à anon & mato

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...