sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Parabéns, Dr. Hawking!


gradiva.pt
No início dos anos sessenta, um jovem investigador na Universidade de Cambridge dava os seus primeiros passos no estudo de um tópico da física que a maioria da comunidade científica considerava um beco sem saída, uma área mais dada aos devaneios religiosos ou às visões místicas do que aos cálculos matemáticos, a cosmologia, o estudo do início do Universo e da sua evolução como um todo. Aos 23 anos de idade foi-lhe diagnosticada uma doença neurológica degenerativa que levaria à atrofia de todos os músculos do seu corpo culminando na morte. Os médicos prognosticaram-lhe dois anos de vida. Mas tal não se concretizou. Em 2009, este jovem retirou-se, como professor em Física Teórica na Universidade de Cambridge, da cátedra ocupada outrora por Newton e Dirac e é, provavelmente, o físico mais conhecido do mundo, de seu nome Stephen Hawking. O que o tornou tão mediático foram tanto as suas descobertas na área da cosmologia como a sua luta constante contra uma doença que lhe paralisou por completo o corpo e fala, mas não lhe diminuiu as suas extraordinárias capacidades de pensamento lógico-matemático e abstracto. Além disso, tornou-se mundialmente conhecido como divulgador científico com o seu livro bestseller "Breve História do Tempo", que pessoalmente ainda me lembro de ler com fascínio na adolescência.
Capa do livro que inspirou uma geração
Do ponto de vista físico, é uma pessoa que, desde há mais de 40 anos, é totalmente dependente de outros para as tarefas mais básicas necessárias à sobrevivência. Neste campo, recomendo a leitura da biografia da primeira mulher de Hawking, Jane, (e que deu origem ao filme "Teoria de Tudo"), onde é apresentado um relato comovente de uma casamento que durou 30 anos e que confirma a velha máxima (goste-se ou não do seu tom machista) que “por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher”.
Mas do ponto de vista da Física, a ascensão de Hawking foi meteórica, acompanhado por alguns companheiros, mas visto e admirado de longe por todos os outros. No final dos anos sessenta e início dos anos setenta do século XX, do esforço conjunto das mentes de Hawking, Roger Penrose e outros, surgiu um corpo de ideias que descrevem, com um grau de consistência interna notável, as condições, mecanismos e resultado final do colapso gravitacional de estrelas, e os buracos negros como possível resultado desses processos, assim como um aprofundamento da própria estrutura do espaço-tempo. O ponto mais alto alcançado nesta batalha pelo conhecimento foi o estabelecimento dos chamados ‘teoremas de singularidades’. Estes físicos utilizaram técnicas matemáticas inovadoras para demonstrarem uma série de teoremas baseados no modelo clássico da estrutura do espaço-tempo que previam, a verificarem-se determinadas condições, a ocorrência de ‘singularidades’ na estrutura do espaço-tempo, regiões ou pontos que têm de ser retirados do espaço-tempo, não sendo possível definir neles as equações de Einstein e não sendo, portanto, possível prever, com base apenas na teoria actual, nada mais além. Revertendo a ordem no tempo destes argumentos, Hawking e Penrose provaram que o Universo, actualmente em expansão, teve necessariamente de ter início num ponto singular, onde as leis físicas actuais deixam de ser válidas, sendo a compreensão deste facto o “Santo Graal” da física moderna, busca essa em que Hawking participa ainda activamente, com os seus 74 anos de idade, feitos hoje.
Tal como Hawking já disse (ou melhor, digitou com o seu único dedo móvel num teclado e cujo sintetizador de voz reproduziu), este descoberta é imensamente superior à descoberta de uma qualquer partícula elementar, mas o comité Nobel ainda não reconheceu a sua importância. Esperemos que não se atrasem demasiado, pois mesmo Hawking não é eterno e um dia a morte libertará esta mente brilhante do seu corpo aprisionado.

R. entregou uma pizza #à amigo secreto #à neutrinos à solta

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