“Diga ao
mundo que somos felizes”. A frase proferida por provecta cidadã da Coreia do
Norte à jornalista da TSF, Margarida Serra, aquando da visita recente desta a
um lar na cidade de Pyongyang gerou em mim um sentimento de profundo mal estar,
destes que não passam com Alka Seltzer nem com duas garrafas de Água das Pedras.
Enganam-se se pensam que dissertarei sobre a “democracia” norte coreana, nas
palavras do atual Presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares. Este
sub-produto da Guerra Fria e da inoperância das Nações Unidas, governado pela
loucura de Kim
Jong-un, com formação académica na mui nobre e insuspeita Suíça, é aos olhos do
mundo um enorme buraco negro, onde a repressão e o autoritarismo aniquilam a
capacidade de pensar, de respirar até, segundo relatos da mesma jornalista. A
zona desmilitarizada, (que jeito dariam aos líderes europeus estes 4 km nas fronteiras
para fazer depósitos de refugiados), os testes nucleares, os discursos
inflamados de antiamericanismo são propalados aos sete ventos por toda a
imprensa mundial.
Longe
de mim defender a ideologia Juche, que no fundo prevê que todos trabalhem de
forma independente para o bem comum. O BEM COMUM, deus meu!!! O que me causou esta
indisposição foi mesmo a headline, “Diga ao
mundo que somos felizes”. Resisto à tentação, naturalmente naif, de acreditar
nesta sénior de sorriso rasgado e rosto iluminado, que nos declara a genuína
felicidade de viver subjugada pela dinastia Kim. Assumo que tal expressão foi
encenada e cuidadosamente encomendada e posta na boca – sem dentes, digo eu- da
mais insuspeita das criaturas.
Neste pressuposto,
vejo-me a mim e a tantos outros a escolher esta atitude subserviente de deixar
nos outros a capacidade de pensarem por mim, decidirem por mim, de ser marioneta
consciente ao arbítrio de mãos sábias. Que cómoda é esta postura de seguidismo
cego. Pensem por mim. Digam-me o que devo pensar. Que bom é ser livre num
mundinho onde tudo me é imposto… Este “Diga ao mundo que somos felizes” poderia
ser proferido por cada um de nós atores passivos neste mundo globalizado e onde
as democracias reinam, ou são reinadas. E convenhamos, em maior ou menor grau,
todos gostamos que nos sirvam em lautos banquetes, em embalagens de cores
berrantes, de mil aromas e paladares, estas verdadeszinhas prontas a consumir. Quase
sempre a nossa liberdade tem expressão máxima, na forma mais ou menos
apaixonada, mais ou menos gulosa como engolimos a verdade que queremos. Aqui no
burgo, ela- a VERDADE- é-nos servida normalmente por bartenders vestido de rosa,
de laranja, azul ou em tonalidades de vermelho, ou pelos televisivos “fazedores
de opinião”, quase sempre trajando impecáveis uniformes em tons matizados, que
nos propõem cocktails cada vez mais elaborados onde misturam um pouco de tudo …
Feita a selecção sobre que realidade vamos consumir é só sentar à mesa e
degustar a especialidade da casa: Um Mojito de liberalismo económico, um Bloody
Mary de estatização da economia, uma Cuba Livre de estado social mínimo, um Gin
tónico de privatização da educação ou da saúde, uma Margarita de nacionalização
da banca… e é ver-nos cada vez mais bêbados, espírito torpe, belfos mas
eloquentes, a prometer porrada a toda a gente que ouse dizer que a sua verdade
é melhor que a nossa.
“Diga ao
mundo que somos felizes”… Pobres dos norte coreanos, que submissos professam
com vénias às estátuas ou fotografias dos líderes desaparecidos, o seu temor à
verdade. Que felizes somos nós, os donos do livre arbítrio e da capacidade para
nos sublevarmos…
Deixem-me ser moralista… antes da derradeira bezana, antes das nódoas negras que
as escaramuças nas traseiras do bar vos trarão, peçam o menu, beberiquem, experimentem,
e depois enfrasquem-se à grande…
A.entregou uma pizza #à politicamente irrelevante
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